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sábado, 26 de janeiro de 2008

A FESTA DA DEMOCRACIA

É sabido que o desmantelamento do Estado Social é um dos principais desígnios deste Governo.
Em nome do sacrosanto equilibrio orçamental e, numa sanha latrinária e malfeitora, assistimos com indignação ao sistemático encerramento de unidades regionais de saúde, hospitais, maternidades, serviços de urgência, e centros de saúde, substituindo-as por mega-estrututuras concentracionárias onde a desorganização, a irresponsabilidade e a desumanidade atingem padrões indescritíveis.
Refiro-me aos bancos de urgência dos grandes hospitais (S.José e S. Maria em Lisboa, da Universidade em Coimbra).
Salas e corredores, antecâmaras da morte, onde se amontoam entregues à sua sorte, doentes, velhos e moribundos que podem fugir, apanhar infecções, cair das macas e até, morrerem abandonados.
Verdadeiros armazéns de sofrimento onde ninguém tem nome, onde ninguém é responsável por nada e onde a impunidade impera.
Infelizmente, pelos piores motivos, tenho tido o infortúnio de conhecer nos ultimos anos algumas das grandes urgências hospitalares deste país e, salvo raras excepções, delas guardo as mais sinistras e amargas recordações.
É precisamente neste mundo kafkiano, que se pretende concentrar o SNS, acabando com tudo o que esteja próximo, onde as pessoas têm nome, onde a dedicação, a humanidade e o afecto ainda fazem parte dos cuidados de saúde.
A ambulância, adquiriu uma inaudita importância e incontornável presença na vida dos portugueses, porque é nela que a vida humana, cada vez mais, começa e acaba, quase sempre da pior maneira.
O primeiro ministro do governo deste país ( o tal que conseguiu assinar em Lisboa o novo tratado a UE) passou hoje por Évora onde foi apupado por cidadãos indignados, aviltados e fartos de tanta malfeitoria.
Sem sombra de incomodidade, sorridento e com lépida prosápia, disse para a comunicação social que tais manifestações fazem parte da "FESTA DA DEMOCRACIA!"
E lá seguiu altivo e prazenteiro para a albufeira do Alqueva onde visitou projectos turisticos de empresas espanholas.

A falta de vergonha constitui um dos maiores défices civilizacionais das sociedades contemporâneas.

Pobre país!

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