TUDO ACEITA E NADA MERECE

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ANOS 70 ( II )


Local, ano e acontecimento: Lisboa, Liceu de Gil Vicente, 1972, exame oral de Geometria Descritiva do 7º ano (agora 11º).

Depois de um dèzito na escrita apresentei-me à oral. Tinha uma certa mania em matéria de desenho e, como tal, dedicado pouco tempo à disciplina em questão. Como não tinha ainda idade para me propor a exame, tinha-o sido pela saudosa Escola Luís de Camões, ao Intendente. Como Presidente do júri tocou-me o Roxo, arquitecto, mas que, por motivos nunca percebidos, se arrastava como professor de Trabalhos Manuais. Já o tinha apanhado no Camões entre 65 e 66 e agora lá estava ele, no Gil, com a tarefa de me examinar. Pela ordem alfabética tinha-me calhado ser o primeiro desse dia.

Após aquelas tretas iniciais lá me mandou desenhar uma linha de terra, o que fiz com algum sucesso, visto conseguir traçar rectas e curvas sem tremeliques o que me proporcionou o primeiro elogio dessa manhã soalheira.

Só que acabou por ser o primeiro e o último visto o resto do exame ter sido um desastre completo, em parte por azar, dado ter incidido sobre aquela parte (imensa, por acaso) da matéria que eu nem sequer tinha folheado.

As coisas iam de mal a pior quando o Roxo me perguntou “o que é que eu pretendia seguir”; a minha resposta, ainda por cima com um ar sério: Arquitecto, senhor arquitecto, logrou lançar uma excelente disposição sobre a sala, uma vez que, à gargalhada geral, se sucedeu o assassino dichote que o Roxo atirou aos outros elementos do júri: “Mais um que nunca lá vai chegar”. E não há dúvida que teve razão.

Ao terminar o exame fui contemplado com a ordem “de me manter na sala, tentando aprender alguma coisa com os restantes alunos que se seguiriam, com vista a uma melhor prestação na segunda época”:

Conformado com a sentença lá me vim sentar junto ao nosso Teodorias que tinha feito o favor de me acompanhar, trocando uma manhã de praia por este gesto solidário.

O aluno seguinte tinha dois apelidos, daqueles sonantes, ligados por uma partícula “e” e apresentava-se pujante ao exame, vestido com blazer azul, de botões dourados e calça cinzenta, não faltando a gravata de risca em diagonal. Ainda por cima os apelidos eram um único composto e não concatenados, género Apelido 1 da mãe e Apelido 2 do pai. Não me lembro da nota com que ía à oral, nem isso interessa para o caso. O Roxo quase fez uma vénia quando lhe perguntou “se Apelido 1 e Apelido 2 tinham algo a ver com o insigne Arquitecto Apelido 1 e Apelido 2”. Quando o moço respondeu “é meu pai” o Roxo, como não podia deixar de ser, sorrindo, retorquiu: “Como é evidente vai seguir a mesma carreira e tornar-se continuador da obra magnífica empreendida pelo seu pai?”.
Tendo obtido uma tímida resposta afirmativa lá recomeçou tudo com o desenho da linha de terra. Só que – Deus é Grande e nessa manhã de Junho de 1972 estava de olhos bem abertos – o menino Apelido1 e Apelido 2 ainda sabia menos que eu, com a agravante de nem conseguir desenhar linhas direitas.

À medida que o exame decorria eu era presenteado pelo Roxo com olhares assassinos. Notava-se o arrependimento de me ter mandado ficar, associado ao crescente murmúrio da sala, cada vez que o futuro Arquitecto se espalhava sem apelo nem agravo.

Para abreviar apenas posso dizer que, tanto ele como eu, passámos com 10 (naqueles tempos ainda havia um bocadinho de vergonha) e, ao contrário deste escriba, o Apelido 1 e Apelido 2 tornou-se mesmo Arquitecto, digno sucessor do Atelier do paizinho.

Quanto a mim não há dúvida que, nesse dia, estava mesmo com o cuzinho virado para a Lua.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Estes dois queriam ir-me ao c.


Não duvido que até sejam boas pessoas. Agora há coisas...
A primeira é a ideia peregrina de tirar os carros do Terreiro do Paço ao domingo. Um cidadão habitante de Lisboa - daqueles normais que não têm garagem no condomínio - passa a semana refém dos que, vindos da periferia, montados nos seus carrinhos, ocupam todos os lugares disponíveis. Basta necessitar de tirar o carro um bocado para perceber que já não o pode voltar a estacionar perto de casa. Tudo bem, usem-se os transportes públicos; é o que eu faço. Logo, ao fim-de-semana, quando essa malta está pacatamente nas "linhas" (Loures, Vila Franca, Cascais, Sintra e Margem Sul), os transportes públicos são mais raros ou inexistentes em certas linhas, o trânsito é mais fluido e não se polui tanto em engarrafamentos, é que nos impedem de circular de carro na totalidade da cidade. Somos duplamente reféns.
A segunda medida prende-se com o IMI.
Viver em Lisboa, capital do país, é um acto de coragem. A capitalidade só aporta desvantagens. São as manifs, as delegações, as embaixadas, os serviços públicos, as cimeiras, as tomadas de posse, as paradas gay, tudo a chatear o municipe. Se os tipos de trás-do-sol-posto querem ascender a vila ou cidade para onde é que vêm bloquear as ruas com as excursões almoçaristas? Para S.Bento, o que lixa logo a circulação no centro da cidade. A CGTP e a UGT manifestam-se onde? Em Lisboa. Etc...etc...etc...
Conclusão: o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) deveria ser tendencialmente zero, desde a segunda circular até ao rio, para compensar os que cá moram e atrair outros para a cidade. Ora estes dois queriam aumentá-lo para o máximo possível. Em vez de compensar, castigar.
O Costa porque a CML está tesa e a solução é aumentar impostos e criar taxas (sobre os mesmos) e o Zé (agora convenientemente calado (tacho, olha o penacho, tacho ó zé d'arriba; tacho, ai rapó tacho, de cima pra baixo de baixo pra riba)) porque provavelmente acha que qualquer modesto proprietário de um andar é um perigoso fascista.
Sai mangito! Por agora para estes (que são os que lá estão).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Pedir Factura?

Não percebo nada de economia; nem de macro, nem de micro. A única relação com esta matéria vem da cadeira de História Económica; aqui vale o senso comum.

Com a campanha "peça factura" pretende o Estado arrecadar mais impostos.
Pergunto: a quem?
Se chamo um canalizador ou mando arranjar o carro numa oficinazeca e peço factura o que é que acontece?
Os tipos levam-me logo mais 21% do IVA.
Como vão ser obrigados a pagar IRS ou IRC acrescentam um xis devido a esse facto.
O estado obtém mais receita, mas à minha custa, porque os outros intervenientes têm a possibilidade de fazer reflectir esses custos no preço final.
O mesmo se passa nos restaurantes: mais pedidos de factura, mais cara a refeição. Se não imediatamente assim será num futuro próximo.
Isto porque qualquer empresário compõe os preços de venda em função dos custos onde os impostos estão incluídos.

Por isso eu - legítimo membro dos otários que pagam tudo - proclamo:
FACTURA? Não obrigado.

ODRINHAS


Lembram-se? Mil novecentos e quê? Falta a crónica.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

TAGUS


Já era consumidor da TAGUS, não sei bem porquê, talvez por ter apanhado uma daquelas promoções em que dão um copo. Acontece que fiquei a gostar. Ainda por cima, com o nome do rio da minha cidade. Com esta campanha www.orgulhohetero.com que deixou a bichanada em transe só a posso apreciar cada vez mais.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cara escória Joana:

Antes de mais, duas achegas: senti-me lisonjeado pelas palavras que me dirigiu e pela importância que deu ao meu comentário; deixe-me esclarecer também que nada tenho contra a Mulher, latu sensu, muito menos contra a ala feminina da Escória, strictu sensu, até porque "filho de escória, escória o é", seja homem ou mulher (atente-se, "filho" e não cônjuge).

Dito isto, vou tentar (a mais não me sinto obrigado) explicar-lhe como isto funciona.

O MAE reúne-se em sessões ordinárias, extraordinárias e "conárias", segundo os seus estatutos.

As primeiras ocorrem mensalmente, as famosas "últimas sextas-feiras do mês", as quais, segundo consta, lhe causam alguma comichão. Nestas, a presença feminina está estrictamente (entenda-se estatutariamente) proibida.

As chamadas sessões extraordinárias, como o nome indica, surgem aquando de alguma efeméride ou de alguma ocasião excepcional que obrigue à reunião dos seus membros e, nas quais, a presença feminina está obviamente dependente de deliberação, havendo quórum para tal. Permita-me dizer que o MAE tem sido até bastante condescendente neste ponto, raramente deliberando em sentido negativo, caíndo, por conseguinte, em saco roto qualquer acusação de conservadorismo - pelo menos de conservadorismo naturalista, de índole metafísico-dogmática.
Isto para lhe mostrar que podemos dizer "não", mas explicamos o "porquê", apesar de nada nos obrigar a tal.

Last but not least, as sessões "conárias" (que inspiraram o "Kunami fresquinho" de uns felinos que por aí andam). Nestas sim, a presença feminina é pressuposto, caso o dia do Doutoramento de filha ou esposa coincida com uma sexta, a última do mês.
Como vê, somos uns mãos-largas e, se bem me lembro, a senhora sua mãe já teve o prazer de intervir numa destas sessões, preenchendo para tal os requisitos. Aliás, parece-me bastante elogioso para a Mulher a existência de tão exigentes condições.

Resta-me dar-lhe os melhores cumprimentos e um conselho de escória para escória: não deixe de estudar, já faltou mais!

Atentamente,

Chico

P.s: peço desculpa pela estemporâneadade do esclarecimento, mas só agora me foi possível dar a cuidada atenção que exigente tarefa merece.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Revisão do Estatuto da Juventude Escória

Em resposta ao meu caro amigo Chico
C/c: MAE em geral,

Chega pois a hora de fazer a minha primeira intervenção pública e oficial neste nobre blog (poiso e elo de ligação dos mui nobres membros do MAE), algo que farei procurando não ferir as sensibilidades dos seus membros nem afrontar a tradição e ordem estabelecidas.

Antes de mais, quero demonstrar os meus sinceros respeitos pelos seus membros e antecessores, e jurar de mão sobre o coração a minha total lealdade aos três princípios da Escória, assim como ao Princípio Supernovo, que considero de soberba relevância idiossincrática, uma vez que reafirma o indelével denodo Escória.

Após esta humilde demonstração de lealdade e compromisso, quero passar à fase seguinte desta minha intervenção, que consiste na defesa do meu “movimento insurrectivo legitimado por um post do nosso Porco”.

O motivo da insurreição, nada me custa acendrar: “Só quero ser membro de uma organização que não me aceite como membro”. Ao meu caro amigo Chico, que é estudante das leis e da sociedade, lanço o desafio de descobrir quem disse isso e o verdadeiro significado desse aparente paradoxo.

Aos restantes escórias: divirtam-se a vê-lo tentar.

Alego, para não me alongar muito mais, que a minha insurreição é justificada. A minha recusa em aceitar a ordem instituída é elevada não só pelo espírito da própria Escória (este é inegavelmente um apanágio Escória), como por toda a elite reivindicativa que de há anos a esta parte tem vindo a lutar pela igualdade de direitos entre os sexos em todos os momentos do evoluir social e organizacional. Esta reivindicação não é infundada, pois a importância de uma presença feminina foi percebida pelos próprios membros da Escória, dado que, se fossem assim tão avessos à referida presença, não teriam todos, sem excepção, prevaricado.

E para terminar, se o caríssimo amigo ainda não está convencido do elevadíssimo valor da mulher, olhe…

O senhor seu pai que lhe explique!

Cordiais e respeitosos cumprimentos insurrectos,

Joana, a eterna defensora da revisão do estatuto da juventude Escória, de modo a reconhecer juridicamente a existência, legal, da ala feminina.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ENFIM...

Olá amigos
Para quem ainda não foi ao sitemeter informo que o blogue Escória, apesar de estar um bocadinho abandonado pelos nossos escribas, ultrapassou as 1000 visitas.
O José António Santos pediu-me que solicitasse à Escória uma heresia:
Um jantar duplamente complexo: ALARGADO às famílias e (pelo menos) com ele e a sua própria esposa.
Ou seja, não só alargado (o que já de si... enfim...) como contendo um elemento da elite.
Argumentou que sempre se manteve equidistante entre a elite e a escória, numa tentativa falaciosa de ultrapassar (pelo menos) um quesito importante.
Gostava de deixar à douta Assembleia Escória a chamada "batata quente".
Já agora poderíamos marcar o dito jantar (caso seja aceite (evidentemente)), para Fátima. Porque não? Aproveitávamos para consagrar a Escória à Virgem Maria ( o que acho que nunca foi feito).
Aguardam-se comentários.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Finalmente conseguiram

Era uma vez uma organização - aparentemente ao serviço de todos nós - onde todos os dirigentes, menos um, pertencem a uma determinada corporação. Até mesmo o chefe máximo. Melhor dizendo, todos os chefes máximos. Ora esse desalinhado, por acaso funcionário da empresa há muitos anos, até era uma espécie do "Cristiano Ronaldo da casa"; ou seja, era um dos melhores (ou o melhor) da europa no seu ofício, situação que provocava uma certa urticária nos seus pares, condenados às tristes figuras que se conhecem. Ora essa cáfila está de parabéns porque conseguiu o seu objectivo. Essa escrecência foi finalmente substituída; pelo menos é o que dizem os jornais. Meus senhores podem finalmente abrir as garrafitas de espumante.

domingo, 30 de setembro de 2007

O bem/mal amado

Há quem o considere o maior.
Há quem o considere o pior.
Que venha o mafarrico e que escolha.
Com a habitual vénia que a sua evocação nos merece, eis um poema de quem sentiu na pele os efeitos da sua governação:

“Ora querem ver agora
O que à ideia me surgiu.
Apesar da Virgem ser virgem
A Virgem também pariu.

Ali, perto de Tondela,
Outra Santa igual a ela
Que foi Santa Comba Dão
Pariu ali num instante
O mais notável tratante
Que hoje é chefe da Nação.

Dizem que um tal Salazar*
Que anda lá pelas Finanças
Não gosta de contradanças
Nem do prazer de fornicar

Mas então se ele é impotente
E não tem pixota humana
Como é que tal sacana
Vai ao cú a tanta gente?

Faça lá o que ele quizer
Mas não tire ao povo, o bago
Agora o nosso Zé
Está fodido e mal pago”

* Vénia Escória, sff.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Portugal no seu melhor (I)

Uns senhores (que se dizem doctores e psicólogos) andam em luta acesa pelo que eles entendem ser uma ideia genial e necessária: distribuição de seringas nas prisões.

Se há coisas que me fazem espécie e não entendo, esta é uma delas.
Ora bem, que eu saiba (e sei,) é proibido consumo, tráfico (obviamente), enfim, é proibido haver droga nas cadeias (e podia ficar-me por aqui). Ou seja, vamos dar seringas aos presos, convidando-os a apontarem uma ao pescoço de um guarda, segurando a bandeira dos direitos dos reclusos e da higiene pública.
Mas compreende-se, dá muito mais trabalho controlar a entrada da droga num estabelecimento prisional (algo parecido com uma fortaleza, cercada por todos os lados, com homenzinhos de metrelhadora na mão...) e realmente, é bem mais fácil passar um atestado de burrice aos presos ( sendo que a maior parte está dentro por serem chicos-espertos) dizendo-lhes “vá, toma lá uma seringazita, mas não a utilizes, ok? Porque se te apanho com droga vamos ter problemas!”.

P.S: foi feita a experiência em questão no Estabelecimento Prisional de Lisboa e adivinhem qual foi o número bem redondinho de presos que aderiram...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

"Escoria Humana"

Tema "Escoria Humana" da peça chilena La Negra Ester

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

ANOS 70 ( I )

O nosso Professor dos “safanões dados a tempo” – já estamos, obviamente, todos de pé – iniciou a sua grande viagem, rumo às grandes pradarias celestes, fez 37 anos no dia 27 de Julho.

Nessa época eu, com os meus “quinzanitos”, já dava os primeiros passos no mundo do trabalho, mais precisamente na secção de sobrescritos da Papelaria Fernandes.

Todos conhecemos as histórias das partidas pregadas aos maçaricos, desde “ir buscar a marreta de amaciar borracha”, até “colar os rectângulozinhos nos cartões de 80 colunas, para serem reutilizados”, entre muitas outras, um pouco o equivalente à caça aos gambozinos que mimoseava os amedrontados putos na sua iniciação aos acampamentos.

Como não podia deixar de ser, também me vi envolvido numa cena dessas.

Toca a enquadrar a coisa: Os sobrescritos (basta abrir – planificar – um para perceber) têm um formato específico. São cortados por um molde de ferro, pesando cerca de 15 Kg (o cortante), através de uma máquina de pressão (o balancé). Ora esse cortante deve estar bem afiado para poder lacerar sem falhas a montanha de papel.

No meu primeiro dia de trabalho o “ti” Armando, como era conhecido, chamou-me para me dizer, com um ar muito sério, que uma das minhas funções como aprendiz era levar os cortantes a afiar “ao Beco das Olarias” e, a propósito, já ali tinha o primeiro.

Quando olhei para o monstro (era um dos modelos maiores e mais pesados) comecei a pensar que estava metido num bom sarilho. Enfim, alguém havia de me ajudar, pelo menos, a colocá-lo numa espécie de protecções de madeira que serviam para o transportar.

Nesse momento o chefe chamou-me para me mandar ir buscar qualquer coisa a outra secção e o assunto ficou em suspenso.

Quando voltei já passava do meio-dia e tanto o “ti” Armando como os outros já tinham ido almoçar. Que fazer? Bom, eu não era nenhum mariquinhas e, além disso – atenção - já tinha o quinto ano o que era, no conjunto daquela tropa, chefes e sub-chefes incluídos, o maior nível de habilitações da oficina. Lá arranjei uns apoios, umas cordas, umas capas de papel kraft impermeável para ser mais grosso e, ao fim de algum tempo, lá tinha o cortante devidamente protegido e embalado.

A odisseia seguinte foi conseguir rolá-lo (um cortante tinha, mais ou menos, o formato de um quadrado) durante a centena de metros que separava o pátio das oficinas da paragem do 25, em pleno Largo do Rato. O próprio porteiro, meio aparvalhado, apenas sorriu quando lhe disse que cumpria ordens do “ti” Armando.

Felizmente um grupo de guarda-freios, que estava à sombra das frondosas árvores que ornamentavam o Rato nessa época, ajudou-me a elevar a bisarma até à plataforma da frente do eléctrico. A suar que nem uma besta lá segui até ao Martim Moniz a troco do bilhetinho azul de quinze tostões, bem guardadinho no bolso para mais tarde prestar contas.

Uma vez no Martim Moniz lá foi o resto do “calvário”: Rodar o trambolho Calçada dos Cavaleiros acima, virar à esquerda, ultrapassar umas escadinhas de que a zona é fértil e descobrir, num canto a Serralharia Mecânica das Olarias.

Ainda meio curvado e completamente encharcado de suor ouvi o dono da oficina proclamar um rotundo “Eh cumcaralho estás fodido, que os gajos andam todos à tua procura, já ligaram para cá e tudo. Isso era uma partida para tu te borrares todo e começares a suplicar, com a malta toda a rir. Essas merdas vêm numa carrinha, juntamente com as lâminas de guilhotina”.

Que se foda, pensei, cumpri as ordens que me deram e o resto é conversa.

Pelo sim pelo não, na expectativa de não me pagarem o bilhete, regressei a penates. Preferi passar pela Barros Queirós e, para retemperar forças, emborcar um peppermint fresquinho na Ginginha Rubi.

Quando cheguei o ambiente, apesar do meu receio, era de admiração e de festa. Quem tinha “levado na carola” do chefe, para não ser esperto, era o “ti” Armando. No final, na minha faceta de mini-intelectual em formação e para a glória ser completa, ainda os brindei com a treta de ter sido aquela merda da história da “carta a Garcia” a mentora da minha façanha.



Uma das coisas que me maravilhava nessa oficina era, como não podia deixar de ser, a cagadeira.

Uma coisa como deve ser, quadrada, rentinha ao chão e com uns pequenos ressaltos laterais que permitiam uma perfeita aderência, quer das botas, no Inverno, quer de umas sapatilhas de lona, que mais tarde se vieram a chamar ténis, no tempo quente.

Um gajo cagava acocorado, posição ideal para que a defecação saísse na totalidade. A merda fazia dois sons distintos – lembro-me como se fosse hoje – “paff”, quando batia no ligeiro plano inclinado de louça ou “ploc” quando acertava no buraco perfeitamente centrado dessa peça maravilhosamente fabricada na “Sacavém” – não havia essas paneleirices da “roca” ou do “mantovani” – palavra mágica que aparecia, a azul (uma diagonal perfeita), num dos rebordos que, há muitos anos, já tinham sido brancos.

Uma e outra situação tinham as suas “nuances” escatolófilas: No primeiro caso soltavam-se uns ligeiros vapores perfumados, mais perceptíveis no frio do Inverno. No segundo eram as gotas de água (só água?) que, ao ressaltarem sob o impacto do cagalhão, vinham refrescar o cú assado pelos calores do Estio.


Fica a solene homenagem Escória a essa grande fábrica, infelizmente já substituída por um condomínio fechado (As voltas que o Maior Português de Sempre deve dar na campa rasa de Santa Comba), que parece – dizem, que eu não sei nada dessas coisas – serve de poiso a uma data de directores de finanças da zona (porque será?) e que proporcionou, durante anos e anos, a milhões de compatriotas, cagadeiras para aliviar a tripa, mijadeiras para mudar a água às azeitonas e bidés para lavar as partes.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

D. CARLINHOS II

Era cliente habitual do Egas Moniz. Volta e meia, tumba, já lá estava caído. As razões não interessam porque não são elas as heroínas desta sublime aventura.

O início da coisa ainda está um pouco nebuloso, até porque, não havendo testemunhas credíveis, teremos de fazer fé no relato dos protagonistas.

Início em registo de comédia:

Uma bela noite, após a rotina normal de fim de jornada num grande Hospital Público, o nosso herói, acolitado por um espécime típico da zona da Boa-Hora / Ajuda, na tentativa de fornecer alguma distracção ao passar lento das horas precedentes do madrugador presenciar do rego das mamas da enfermeira que lhe viria mudar o frasco de soro, resolve organizar um grandioso concurso de peidos.

Ei-los que saem, trombeteantes uns, apenas ligeiramente sibilantes, outros. Volta e meia, tal como nas largadas de fogo-de-artifício, um ou mais morteiros estralejantes rompiam o silêncio da noite; o pianno, mezzopianno e o fortíssimo sucediam-se numa brilhante sinfonia a que não faltavam requintes pituitários motivados pelo lançamento de uma ou outra viúva que, por nítida falta de voz, apenas podia marcar presença pelas microscópicas gotículas de vapores de merda, emitidas para a atmosfera.

A festa só parava quando a puta da enfermeira espanhola, alertada pelas manifestações genuínas de felicidade escatolófila destes Portugueses dos quatro costados, aparecia, rosnando o aviso maléfico: “Poñam-se a pau que Su Alteza el príncipe tambien se lhama Filipe, tal como los otros que vos fueram à la peida, y a quatrocientos e tal años.”

Passado o arrepio a fiesta continuava, imune à turba adjacente, alguns mais para lá do que para cá, até ao previsível esgotamento dos gasómetros tripais, num aparente empate técnico, muito ao gosto dos nobres espíritos para quem a “saudável competição é o único mote de qualquer desporto de cavalheiros”.

Não fora o que adiante se transcreve, directamente dos autos oficiais, e pouco mais haveria a dizer…

No entanto…

Eis senão quando, pouco antes do clímax peidoral, em que as girândolas se sucedem a um ritmo avassalador, uma carcaça humana, postada e prostrada na cama em frente aos dois valorosos competidores, resolve, num gesto temerário, entrar no combate.

Dado o estado lastimável da canalização, a que não faltava um esfíncter completamente poroso e encarquilhado, o primeiro tiro transforma-se numa abominável torrente de merda. Ele era no pijama, nos lençóis, desde as fracas canelas até ao queixo tremente que a ausência dos dentes, esses sim, a descansar num copo de água, devidamente estacionado na mesinha de cabeceira, fazia sobressair. Enfim, uma completa desgraça que fez os nossos amigos estremecerem de pânico: “Se esse monte de merda chama a puta, estamos fodidos.”

Se eles o pensaram, melhor o outro o fez; agarrado à campainha, como um náufrago se acolhe ao destroço flutuante, não descansou enquanto a enorme figura da megera não assomou às portas batentes do serviço.

Ainda restava a esperança que, num assomo de dignidade, a pústula humana assumisse a culpa plena. Mas não, com o esquálido dedo espetado, digno de um Mr. Scrogge, esparramou a denúncia pidesca (ou DRENiana, segundo os novos cânones) sobre os valentes desportistas.

Final em drama:

La putéfia, em vez de, com caridade cristã, lavar e vestir o acamado, num gesto de vingança atroz, pega na panóplia de roupas completamente defecadas e dejectadas e coloca-as aos pés dos dois indefesos cidadãos, quais priores do Crato, humilhados sob os canhões de Olivares

Depois disto, só resta o desabafo: Viva Camões! Abaixo Cervantes!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Verão

Notícia pela manhã: um grande incêndio (mais de 500ha a arder) na zona de Mértola. Os prometidos grandes meios aéreos (desta vez, segundo o-que-era-ministro-e-agora-é-o-primeiro-da-lista-de-que-o-dr.Mega-é-último, é que era à séria) chegaram tarde. Dificuldades de um governo "power point". Azar. Pensavam que o verãozito chuvoso ía durar até ao dia 15.

Declaração (disclaimer):
Estou a dizer mal do governo baixinho e na minha casa, portanto... com autorização.

domingo, 1 de julho de 2007

Liberdade






O Prof. Balbino Caldeira foi constituído arguido. Podemos eventualmente discordar da falta de tacto ao continuar a remexer na merda, a partir do momento em que o assunto "caíu" e, tendo ficado nítido que a licenciatura em questão era uma espécie de prémio da farinha Amparo, não valia a pena estar a provocar aquela piedade popular consubstanciada no "já chega". Agora é que vamos ver o quilate daqueles que avidamente seguiam o Portugal Profundo. Alguns, como é timbre neste "paízito" já começaram a olhar para o lado e a saltar do combóio. A ver vamos...


quinta-feira, 28 de junho de 2007

lol

Confesso - todos temos a nossa pequena perversão - que esta novela da disputa entre o Comendador B versus o último-integrante-da-lista-do-dr.Costa, me tem proporcionado momentos de indizível gáudio, ao imaginar a azia matinal do pedante "cultural" Mega, que sonhou ser Giga ou Tera, mas que não passa de um minúsculo bit. O nosso querido Chico ensinou-me a expressão "lol" do "internetês". Aqui vai um sonante "lollollollollollol".

segunda-feira, 18 de junho de 2007

a afirmação da cultura escória num mundo globalizado

textos como D.CARLINHOS I e PARA QUÊ GUARDAR LIVROS? são páginas vibrantes de cultura escória que mantêm vivo o ancestral grito libertador que num movimento perpétuo para sempre ecoa nos graniticos desfiladeiros do Gerês e do Soajo!
Estão pois de parabéns os seus criadores, lídimos escórias de primeireissima água, que contudo não nos surpreendem pois outra coisa não seria de esperar.
Tratam-se de 2 textos belissimos onde o hiperealismo escatológico nos transporta a ambiências verdadeiramente arrebatadores.
Páginas vivas em que as próprias palavras fedem a odores estonteantes e nos transportam a um limbo de magia.
Continuem pois a deliciar-nos com os vossos mimos literários que nós certamente não merecemos mas sofregamente aceitamos.

sábado, 16 de junho de 2007

Europa?

No meio dos meus afazeres de sábado olhei para a televisão no preciso momento em que um sacana de um israelita dava uma mocada de todo o tamanho no Nani.
Desde quando e com que direito é que estes cabrões fazem parte da Europa?

sexta-feira, 15 de junho de 2007

E o vencedor foi...

"Bosta" (título fruto da vontade do sénior porco)

No dia de Portugal ocorreu-me que: este país, como está, esta dita democracia em que vivemos perdeu, já há algum tempo, o que legitimava a arrogante posição crítica e de superioridade face ao antigo regime. Depois venham dizer-me que foi uma simples votação, num mero programa televisivo...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

D. CARLINHOS I

Tinha acabado de sair da Litografia onde exercia com mestria o seu munus. Vá lá saber-se como, a feijoada do almoço ainda continuava bem presente em frequentes assomos ameaçadores de ventosidades, portadoras daquele perfume a enxofre, metano e ovos podres que tanto prazer olfactivo proporcionam a quem os lança. Hesitou. Talvez ainda fosse possível chegar a casa, ao fim e ao cabo, quase ao virar da esquina. Não, era melhor não arriscar. Estugando o passo, uma vez que a monstruosa calda fervente ameaçava a todo o momento, qual vulcão estromboliano, rebentar a ténue protecção entrefólhica, encaminhou-se para a sua bem conhecida porta, procurando, sem se afastar um milímetro do percurso, um recanto mais escondido que lhe pudesse proporcionar uma alternativa, caso a cólica final chegasse mais rapidamente que o previsto. Felizmente conseguiu acercar-se da abençoada entrada. Imaginemos a tortura daqueles segundos, aparentemente diminutos mas um verdadeiro tormento, enquanto o raio da chave fazia tentativas para abrir o obstáculo final. No tempo em que a movimentação ritmada das passadas controlou a ira dos deuses da defecação a coisa foi andando. Uma vez imóvel, frente à horrível barreira, que teimava em resistir às voltas da chave milagrosa, as forças tremendas do magma merdolento ressurgiram num frémito verdadeiramente avassalador. Felizmente o monstro cedeu. Sem perder um segundo acelerou rumo à casa de banho, procurando, ao mesmo tempo, desfazer-se das calças e das cuecas. Aí chegado, sem sequer acender a luz, naquela penumbra de fim de tarde que entrava pela minúscula janela, pode, finalmente, excrementar e – oh céus – o prazer, a volúpia, o sétimo-céu, enquanto a massa fumegante se escapava roncante umas vezes, apenas sussurrante outras, deixando um vazio cada vez maior naquelas sofredoras tripas. Limpando um pouco o suor frio que se tinha apossado da testa, olhou em volta. Os olhos, até então semi-cerrados de gozo, começaram a habituar-se à pouca luz ambiente. Aí, surpresa das surpresas, exclamou ao vislumbrar o formato da outra louça sanitária que fazia par com aquela onde estava refastelado: “Tem piada, não me lembrava que esta cagadeira tinha duas sanitas…”
Com a pressa, sem acender a luz, tinha-se aliviado no bidé.
Carlinhos, contada por ti era simplesmente divinal.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Guardar livros para quê?

O velho Geadas vive lá na rua desde sempre. Pelo menos, desde sempre, que eu existo. É de certeza muito mais velho que a segunda guerra mundial e, já devia esgalhar a “sua” por altura da primeira. Tem uma cara enrugada de quem tem pelo menos cem anos. Os olhos são dum tamanho descomunal. Ou pelo menos parecem, a julgar pelo que se vê através dos vidros - fundo de garrafa, que ele pendura numa velha armação. Por detrás das orelhas e à volta da cabeça vê-se uma amálgama de cordéis que sustentam em precário e desengonçado equilíbrio, os óculos, a armação, o chapéu e quiça a própria cabeça que se prende ao tronco através dum finíssimo pescoço que é esguio como um eucalipto mas rugoso como um sobreiro.
Usa um velho chapéu de feltro o tempo todo. Dele pendem os cordéis como se fossem teias de aranha e que, não raro, lhe provocam comichão. Nessa altura, irritado, tira o chapéu e coça a cabeça e as orelhas, rematando o ritual com uma cuspidela nas mãos e, com a brilhantina improvisada, alisa três ou quatro vezes a careca e algumas farripas de cabelo. Reconfortado com a improvisada penteadela, volta a equilibrar o chapéu na cabeça juntamente com os cordéis e os óculos.
Seja Inverno ou seja Verão, faça frio ou muito calor, o velho Geadas nunca tira o seu sobretudo escuro de espinha de bacalhau e que há muitos anos atrás deve ter tido uma cor bastante mais clara. Hoje, pelo menos trinta anos depois de ter sido novo, o sobretudo parece uma enorme nódoa, manchada de pequenas nódoas que tanto podem ser gordura de comida, como dos intermináveis galões escuros, das bolas de Berlim, ou dos bagaços que lhe rematam o almoço. A gola está brilhante, com a camada de sarro que tem e, das mangas, tirava-se a gordura suficiente para estrelar ovos para uma casa de família. Na lapela um emblema do Oriental, o seu clube de sempre.
Já se sabia lá na Pastelaria do bairro que o velhote não tirava o sobretudo para fazer as suas necessidades. O Joaõzito, 8 anos, filho do Sô Manel e da Dona Rosa, donos da Pastelaria “Mimosa do Oriente” tinha a mania de espreitar por baixo da porta da retrete, e relatar o que via. Essa curiosidade também já lhe valera um bom par de tabefes do Vitorino, mecânico de profissão, que não achou piada ao divertimento do miúdo e lhe espetou duas berlaitadas nas ventas, perante o olhar resignado do pai e os berros de “ainda comes mais se voltas a fazer” da mãe. Mas não era necessária essa informação do Joãozinho pois ela estava bem patente no próprio sobretudo, quer através de áreas carcomidas pelo ácido úrico, quer das suspeitas manchas acastanhadas que o sobretudo exibia.
Será que o velhote dorme com o sobretudo? Não seria admiração por aí além mas quando acossavam o velhote com a pergunta este, rezingão e chateado, respondia que só dormia com ceroulas e pijama.
Das vezes em que o Joãozito conseguia roubar, por debaixo da porta da casa de banho, a bengala do velhote, ouviam-se um churrilho de impropérios, asneiras e ameaças que muito divertiam o puto e, causavam uma forte risada entre a clientela. Não havia então, grande respeito e consideração pela idade e, tal como com muitos deficientes, eram um motivo de chacota. O Geadas, quando podia, vingava-se, desfechando uma bengalada nas costas do garoto. Numas das vezes até lhe acertou na cabeça e provocou-lhe um respeitável galo que o livrou de chatices quase seis semanas.
O velho Geadas trabalhou 50 anos como fiel de um armazém de vinhos na zona do Poço do Bispo. Dormia frequentemente no próprio armazém, e aproveitava muito do tempo de vigília para a leitura. Era um verdadeiro viciado por livros policiais não se importando de os ler repetidas vezes, citando de cor as passagens e dizeres que mais o tinham impressionado. Nos primeiros anos de reforma continuou a ler com grande regularidade e sofreguidão. Tem uma verdadeira paixão por livros e pela leitura. Mas de há uns meses para cá as coisas estão a mudar. Agora, quem olhar para o Geadas, vê que ele rasga os livros que lê.
A manhã, é dedicada à leitura do Diário de Notícias, propriedade do café. O nosso amigo, lê as gordas da política, escarafuncha ao de leve notícias de escândalos, roubos, agressões e homicídios, passa os olhos pela necrologia a ver se encontra alguma cara conhecida e sobretudo para confirmar que a dele ainda continua ausente da fatídica coluna. Faz as palavras cruzadas e um ou outro passatempo que por lá encontre e está lido o jornal. À tarde, pega num livro policial que transporta no bolso do sobretudo. Já tem umas tantas folhas rasgadas mas o velhote retoma a leitura sempre no início. Lida a folha, rasga-a e coloca-a de lado, formando uma pilha à medida que a leitura avança.
- Geadas, porque raio é que você está a rasgar os livros? pergunto-lhe.
Ele responde-me com uma lógica que não me ocorrera:
- O que é que você quer? Com as dificuldades da vista e a idade que eu já tenho, não o vou ler outra vez e, ao menos assim, sei sempre em que página vou.

Estórias I

Tenho dedicado a generalidade das minhas “bostas” a temas da política actual. O nosso Teodorias (ao fim e ao cabo GRANDE TIMONEIRO da Escória) veio indirectamente afirmar-me que este blogue também serve para fixar factos da nossa memória pessoal, enquanto grupo, possuidor de um passado rico em acontecimentos, por vezes pouco conhecidos dos demais.

A partir dos meus dez anos comecei a frequentar os meios organizacionais católicos da então grande Paróquia do Coração de Jesus pelo facto de os meus dois irmãos, Adelino e Mário (dezasseis e treze anos mais velhos), serem dirigentes de organismos da Acção Católica.

Desses tempos recordo o “Círculo Cultural da Juventude”, patrocinado pelo padre Luís Aparício; reuniões e passeios culturais eram a principal actividade. Recordo alguns nomes (tudo malta, na altura, entre os 20 e os 40 anos): Além dos meus irmãos e das que foram suas mulheres (num dos casos ainda é) Celeste e Maria Teresa, o Fernando Cristóvão (que foi conservador do Convento de Mafra), as irmãs Celeste e Conceição Sequeira, os irmãos Fernanda Nunes e o (também ainda relativamente puto) Horácio, o Carlos Alberto Antunes dos Santos (irmão mais velho do José António), a Maria do Céu Paiva (do Guarda-Roupa), o já casal Daniel? e Maria do Céu Ricardo (os que foram, depois do 25 de Abril, juntamente com o Eduíno Gomes (Vilar) fundadores da AOC (Aliança Operária-Camponesa), que tinha alguns slogans que ficaram na memória (“Nem Kissinger nem Brejnev, independência Nacional” e “Cada voto na AOC (1976) é uma espinha cravada na garganta do Cunhal”) além de duas fabulosas vivendas (ocupadas) na Rua Eça de Queiroz), o Félix, o Moita (género “electrónico-morais”, sempre encarregue dos apetrechos técnicos), a (tia) Carlota, chefe do catecismo, o Carlos Alberto (tenente) entre outros que alguém (certamente) nos vai ajudar a “elencar”.

Outra organização a que pertenci, já pelos treze / catorze anos, foi a JOC (Juventude Operária Católica), igualmente dinamizada pelo Pe Aparício, juntamente com os Padres Morais Sarmento e Alexandre Nascimento (agora, respectivamente, Capelão da TAP (ainda será?) e Cardeal Emérito de Luanda).

Aí tive como camaradas, o Vítor Boal, o António Domingos, o João Resende, devidamente pastoreados pelo Emídio Sousa, mais tarde quadro da tendência católica da Intersindical.

Além da JOC existiam a LOC (Liga Operária Católica), presidida pelo Sr. Ferreira (pai do Carlos Abreu Ferreira) e as mesmas organizações seguidas do “F” de feminina.

Para quem não sabe, estes grupos católicos utilizavam o mimetismo com o PCP, como norma organizacional: Nós éramos “camaradas”, ao aderir tornávamo-nos “militantes”, as secções paroquiais designavam-se por “células” e até o líder se chamava “controleiro”.

Fundados pelo padre belga Joseph Cardjin, no inicio do século XX, procuravam ajudar a juventude operária a lutar pelos seus direitos, lutando, ao mesmo tempo contra o comunismo, com a divisa “VER, JULGAR e AGIR”.

Só mais tarde, em 1970, descobri o Círculo Juvenil (que já vinha de 1966), liderado pelo José Carlos Amador Rebello.

TEMPOS DIFICEIS

Vivemos tempos dificeis e o perigo espreita em cada esquina.
Procuramos sobreviver, ultrapassando os cinquenta mas todo o cuidado é pouco!
Pela minha parte deixei de beber coca-cola desde que descobri que a dita serva para tirar manchas da sanita.
Deixei de ir ao cinema com receio de me sentar numa agulha infectada com SIDA (que saudades do Palhinhas!)
Deixei de usar desodorizantes, (não por causa do buraco do ozono...) porque provocam cancro e por isso já começo a cheirar ao refogado do saudoso 90 e isso está-me a estragar uma promissora carreira .
Quando vou a uma qualquer recepção, já não olho para mulher alguma, por melhor que seja, com medo que ela me leve para o hotel, me drogue e me retire os rins para traficar.
Quis-me armar em escória-porco e doei as minhas poupanças à conta da Kátia Vanessa, uma menina doente que esteve a morrer no hospital da Estefânia...aproximadamente umas 7.000 vezes (é engraçado, esta menina tem 8 anos desde 1993...)
Também deixei de atender números anónimos com medo de uma voz sedutora me pedir para discar um número esquisito e receber uma conta de telefone infernal com chamadas para o Uganda, para Singapura ou para as ilhas Fidji.
A propósito de telefones... o meu Nókia grátis nunca chegou, nem as passagens que eu e a familia tinhamos ganho para uma férias pagas na Disneylandia.
Enfim...uma espiral de sacanagem que nos atormenta a alma e nos retira a bonomia de outros tempos.
Somos peças inertes de uma engrenagem infernal.
Um mundo cruel, globalizado e insuportável dominado pela elite

Que fazer?

SÓ O ESPIRITO ESCÓRIA NOS PODE VALER.

domingo, 3 de junho de 2007

O SARILHO

Pedro Santana Lopes foi eleito pelos lisboetas. Por poucos votos, segundo a “máquina” socialista: cerca de 800. No entanto - é indesmentível – foi-o (sozinho) contra uma coligação entre dois fortes partidos da esquerda – PS e PCP – e, ainda por cima, contra o candidato que já estava no poder, João Soares, o que em matéria autárquica (Portuguesa) é pouco normal. Com efeito os Presidentes de Câmara só costumam cair, ou quando desistem de se candidatar, o que não foi o caso, ou quando a população quer mesmo correr com eles. Daí a vitória do Santana Lopes contra o João Soares representar (quanto a mim) muito mais do que uns simples 800 votos. Poderemos sempre dizer que veio na sequência da “desistência” do Guterres. Então e o Joaquim Raposo na Amadora, o Mesquita Machado em Braga, entre outros que, pertencendo ao PS não perderam os seus lugares de Presidente? Talvez possamos ir buscar algumas das causas à campanha desastrosa onde, por exemplo, o seu director, Vasco Lourenço, veio “atemorizar” os eleitores com a ameaça do retorno do fascismo caso Santana Lopes fosse eleito, isto perante muitos eleitores que por terem menos de 35 anos idade nunca viveram nessa época. Aquilo que resultava nos anos 70 e 80 já não poderia funcionar em 2001.

Uma vez eleito (mais uma vez quanto a mim) PSL, nos dois anos e meio em que exerceu o seu mandato, foi um dos melhores presidentes de Câmara que Lisboa conheceu.

Não considerando (porque, ao fim e ao cabo, todos procuram denegrir o seu antecessor) as denúncias em termos de urbanismo como, por exemplo, o escândalo do prédio do Largo de Camões, recuperado pela Câmara (do João Soares) para ser entregue a “jovens” de Lisboa, que, por um mero acaso, eram todos filhos ou sobrinhos dos autarcas das freguesias de Lisboa afectas à coligação PS/PCP, podemos encontrar diversas iniciativas em prol da cidade patrocinadas por PSL:

- A recuperação da zona do parque florestal de Monsanto, com diversos parques infantis, a criação do auditório Keil do Amaral, pistas para ciclistas, locais interditos à circulação automóvel e um reforço do policiamento da área. Diz-se que isso se deveu à utilização (pela primeira vez) da casa situada nessa zona, mandada recuperar por Kruz Abecassis para moradia dos Presidentes da Câmara. Qual o mal disso? Será de mais que o Presidente da Câmara de uma cidade tenha uma casa proporcionada pelo município, enquanto durar o seu mandato?

- Foi o primeiro presidente que teve coragem de regular o trânsito automóvel nos bairros históricos: No Bairro Alto, Alfama, Castelo, Mouraria, etc… deixou de ser possível o escândalo que se vivia anteriormente: “bichas” de carros para entrar ou sair, estacionamento selvagem impeditivo do acesso de uma ambulância ou de um carro de bombeiros, impossibilidade de os carros do lixo poderem exercer a sua actividade. Lembramo-nos da polémica. Contrariamente ao João Soares, que desistia ao mínimo contratempo, PSL manteve as suas medidas que hoje são apoiadas por todos.

- Sobre o túnel do Marquês, lançado por ele, não vale a pena tecer considerações, uma vez que parece consensual a utilidade dessa obra. Aliás José Sá Fernandes está a pagar, correndo até o risco de não ser eleito vereador, todos os atrasos que provocou à obra.

- Para não me alongar vou só referir uma obra que não chegou a ver a luz do dia: O Casino no Parque Mayer. A oposição, PS / PCP / BE (mais uma vez o Sá Fernandes em acção) tudo fizeram para que o projecto fosse abortado.

Independentemente de quem tenha ou não razão sobre as questões técnicas subjacentes ao caso ou de ser muito caro o projecto do Frank Gery, parece-me evidente que quem ama aquela zona da cidade sofre com o abandono nocturno a que está sujeita. Toda a gente proclama que a Avenida da Liberdade deve ser reabilitada, são choradas lágrimas de crocodilo quando a comparam com os Campos Elísios ou a Rambla de Barcelona. Mas onde estão as iniciativas concretas? Certamente que um Casino instalado no Parque seria uma âncora poderosa para a reformulação nocturna do espaço. Veja-se o que de positivo acontece no Parque das Nações onde finalmente acabou por ser instalado.

O que é que então tramou PSL? Segundo o nosso Teodorias foi a tentação de dar o passo mais longo que o pé. E como é que isso foi possível? Pura e simplesmente porque o Durão Barroso resolveu criar um grande sarilho ao pirar-se do país para um cargo europeu (daí o título desta “bosta”). Aí o PSL não resistiu; ele que estava a preparar-se para fazer um ou dois mandatos de qualidade (vide Figueira da Foz) e, seguindo o exemplo do Jorge Sampaio, tentar a Presidência da República foi, de repente, alcandroado a um lugar para que não estava, nem preparado, nem vocacionado. Além disso sabia-se que o então Presidente estava à espera da mínima oportunidade para, uma vez resolvida a liderança do PS, provocar eleições antecipadas.

É pena que este “sarilho” tenha retirado PSL da Câmara. Lisboa (acho eu) estaria diferente para melhor.

sábado, 2 de junho de 2007

Jogando à bola com a “Judite”


A “estrada nova” ficava entalada entre as instalações da Polícia Judiciária e a Escola Superior de Medicina Veterinária. Tinha uma entrada a partir da Rua Gomes Freire, mas não tinha saída para lado nenhum. Era bastante inclinada e ao cimo era rematada, de frente, com um muro de 2 metros pertencente à escola e, do lado direito, com um portão da “Judite”. Com o correr dos anos e a dificuldade de estacionamento, foi transformada em Parque privativo da PJ com direito a cancela.
Não era muito fácil jogar à bola num terreno com aquelas características. Era fortemente inclinado e apertado mas, era o que havia. Para evitar que as bolas fossem parar ao fim da rua, as balizas eram no muro da Veterinária. Consoante o número de futebolistas era, par ou ímpar, assim jogávamos com uma ou duas balizas que estavam uma ao lado da outra, marcadas no chão com pedras ou casacos e, ao longo do muro com linhas de giz – um motivo de grande controvérsia com o sr. Pompeu, guarda e vigilante da Veterinária que, quando nos apanhava, nos obrigava a lavar e limpar os ditos riscos, enquanto nós barafustávamos e acusávamos um qualquer ausente, pela façanha. Não raro os remates mais desastrados entravam na própria baliza. Outros com certeira pontaria à baliza do adversário eram defendidos pelo guarda redes da própria equipa, que não queria arriscar um frango.
Sem a presença de carros, na altura ainda bastante raros, fazíamos futeboladas que duravam entre uma e seis horas. Ocasionalmente eramos interrompidos pela presença do “velho” ou da “velha “ de algum dos participantes que, não raro, era corrido à chapada até casa, preso por uma orelha e a escutar um sermão com a invariável temática do estudo, das notas, das faltas e o prognóstico dum futuro negro e a trabalhar nas obras. Naquela altura, os maus tratos no seio familiar não eram considerados “violência doméstica” nem o código penal defendia uns energúmenos que se juntavam para jogar à bola nas barbas da judite em vez de estarem a “marrar” como era sua obrigação.
Neste ambiente de segurança e previsibilidade, lá íamos fazendo as nossas jogatanas sem que algo de verdadeiramente perigoso nos ensombrasse as tardes e noites de bola.
Porém um dia, algo de aterrador nos aconteceu. Uns bófias da judite, que não estavam a gostar das nossas performances futebolísticas, resolveram fazer uma caçada aos “putos” e, pregar-nos um susto ou coisa parecida, que nos levaria até às instalações da Judiciária para uma “espécie de
interrogatório” com a dramatização inerente e, posterior chamada dos pais para participação da ocorrência e entrega dos delinquentes aos respectivos progenitores. O resultado seria certamente demolidor. Chegados a casa, haveria uma carga de porrada inicial, à base de estalada na cara e, fiveladas de cinto no traseiro, acompanhada com sermão e missa cantada. Ficávamos proibidos de sair à rua e, muito menos, de nos darmos com a canalha que nos andava sempre a desencaminhar. Qualquer pequena falha era punida com castigo corporal violento e com permanente e oportuna referência ao sucedido, e à vergonha que os nossos pais passavam por terem filhos assim. O incidente colocáva-nos com a espada de Demócles semienterrada no pescoço e sempre pronta a provocar novo sangramento. Demoraria meses até que tudo fosse adormecido e colocado em banho maria. Esquecido, isso nunca. Estava fora de questão.
Os agentes da judite, delinearam um plano simplista. Afinal tratava-se de dar uma lição a uns putos que, tinham a suprema lata de vir jogar à bola nas barbas da polícia.
Vieram dois pela Estrada Nova acima e outros dois sairam das próprias instalações da judite. Pensavam eles que, com um as duas vias cortadas, era só apanhar os patos.
Mas era obviamente uma caça de raposa e coelho. A raposa corria para ganhar o almoço e o coelho para salvar a vida.
Mal um de nós deu o alarme, em menos de um segundo estávamos a trepar o partão metálico da própria judite e a saltar o muro de dois metros que nos colocava no interior das instalações da Escola de Medicina Veterinária. Perseguidos e acossados pelos agentes que, estavam a ver as presas a fugir, corremos com quanta gana tínhamos pelos caminhos ajardinados até um gradeamento elevado, distante cerca de trezentos metros do local do “crime”. Aí chegados, passámos por entre duas grades que tinhamos anteriormente alargado com um pé de cabra, “encontrado” numa obra, precisamente para estas eventualidades. Sem hesitar, lançámo-nos pelo ar para aterrar no passeio da Rua da Escola de Medicina Veterinária. Ainda conseguimos ver o olhar furioso, mas conformado, dos agentes que não conseguiam passar as grades. Mas não tivemos tempo de saborear a vitória. O medo era tanto que corremos quase sem parar até ao Saldanha e depois, ao longo de toda a Av. da República, em direcção ao Campo Grande. Só parámos na Pista das Bicicletas, já agora, para dar uma voltinha. Reunidas todas as economias conseguimos arranjar três escudos que nos íam permitir alugar duas bicicletas durante 15 minutos. Como eramos quatro dava sete minuos e meio a cada um. Daria, digo eu. Pois com a nossa manha conseguíamos sempre um extra. Para já ninguém tinha relógio. Essa era uma prenda a receber, como prémio da conclusão do exame da quarta classe. Lá chegaria o tempo. Quando, pelos nossos cálculos, o quarto de hora se estava a esgotar, apenas circulávamos no extremo da pista e, esperávamos calmamente que nos viessem chamar para entregar a bicicleta. Deste modo ainda conseguíamos o percurso extra até ao local de estacionamento das biclas. Lá chegados, eramos alvo da ira do dono da loja que nos enxovalhava, insultava e ameaçava, jurando que nunca mais nos alugaria uma bicicleta. Ouvida a palestra, lá seguíamos para casa ao ritmo de um quarteirão a correr e outr a andar, até chegarmos ao Saldanha. Aí abrandávamos o passo para podermos chegar a casa com um ar mais normal e pouco suado. Afinal, tínhamos dito aos nossos pais que estávamos a brincar à carica no passeio da rua.
Não sei onde é que íamos buscar energia nem imaginação mas, lá que estávamos sempre a inventar sarilhos, lá isso estávamos. E afinal eu era o mais velho, chefe da clique e, já só me faltavam dois meses para fazer nove anos.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A GREVE

Como utente diário da linha amarela do metropolitano fiquei f….. (podemos traduzir por furioso) quando bati com os "números" (chiffres, em francês. Agora, após o “jámé” do Mário Lino, (AML (após Mário Lino) onde o A tem a vantagem de ser internacional (APÓS, APRES, AFTER))) (penso que os parêntesis anteriores estão bem fechados), todos podemos dizer blagues na língua de Sarkosy (não é húngaro porque essa é a língua do pai e é mais actual que dizer na língua de Racine ou Victor Hugo (o verdadeiro, não o Cardinali)).

Como já me perdi, recomeço na altura em que percebi que os avisos afixados na véspera e que garantiam os chamados Serviços Mínimos eram treta, o que me obrigou a percorrer a pé (só faz bem, não é?), entre impropérios (meus e dos restantes transeuntes, onde incluo várias cavalheiras com os calcantes enfiados em sapatos de salto altíssimo, o que é muito interessante porque as obriga a terem um certo ar dengoso) o trajecto entre o Campo Grande e o Marquês, porque os autocarros, embora circulassem, o faziam à velocidade de gastrópode.

Curiosamente (sinais dos tempos) ouviam-se pouco as normais expressões de “filho da puta” ou “paneleiro de merda”, não fosse algum bufo, imaginando-se já numa cidade de Lisboa controlada pelo Comissário Costa, considerar a Avenida Fontes Pereira de Melo uma extensão das Públicas Conservatórias do Registo Civil, aí localizadas, tratar de denunciar o prevaricador à Polícia Municipal, como ofensor de alguém de que, obviamente, (mais uma vez, sinais dos tempos) não vou referir o nome. Vou chamá-lo “ o herdeiro” porque já li imensas anedotas (pretensamente originais) que já vêm do Américo Tomás, passaram para o Samora Machel antes de aterrarem no velhinho 40 da Rua Castilho. Alguns (e também o Júlio César) percebem esta ligação.

Aí (no Marquês), felizmente, pude apanhar o “meu” 48 onde, embalado pelas leituras sucessivas do “metro”, “destak” e “diário desportivo” e beneficiando da fantástica redução do trânsito à superfície, motivada pelo túnel, me deixei transportar até Miraflores.

Já pela noite dentro pude finalmente (não) perceber a extensão da dita greve geral pelas palavras dos secretários de estado, em nome do governo, e do inefável Carvalho da Silva, pela CGTP.

Realmente uma coisa é verdadeira: O Sócrates, apesar da licenciatura saída na farinha amparo (não posso ser perseguido porque esta frase é do Marcelo Rebelo de Sousa na televisão) tem um ar fino; mesmo que não o seja parece mesmo um doutor ou engenheiro.

Já o Carvalho da Silva, licenciado em Sociologia pela Nova e doutorando, na mesma vertente, pela mesma universidade, por muito que se esforce (será da companhia), continua a ter aquele ar de electricista boçal. Se calhar é por isso que o Jerónimo o quer sanear para o substituir por um verdadeiro camarada sempre sempre ao lado do povo trabalhador, que, tal como ele não queira passar-se para o lado dos dê-erres.

Se calhar ainda vamos tê-lo, quando se reformar do sindicalismo, na Quadratura do Círculo, isto se este programa deixar de ser poiso apenas dos designados partidos democráticos (PS/PSD/CDS), provavelmente o último resquício do léxico PRECiano ainda em vigor.

Já agora (um aparte) o Jerónimo (nesse aspecto) até é um tipo sério: Também podia facilmente ter obtido um grau de doutor (por exemplo em Petróleos) na antiga URSS, com diploma e tudo e evitar o incómodo de ser o único tratado por “senhor” nos debates televisivos.

Voltando à vaca fria, se a CGTP averbou uma derrota nesta greve, também o governo não pode começar a considerar-se vitorioso, utilizando a velhíssima fórmula de “as abstenções contarem a favor”, ou seja, quem não fez greve é porque é contra a greve.

Este governo, mais do que qualquer outro, tem a seu favor o aumento exponencial da precaridade, aliado à novel espada de Demócles que pende sobre as cabeças dos funcionários públicos. Por alguma razão foram os tipos do metro, que beneficiam de um estatuto particular, porque não são funcionários públicos mas funcionários de empresas públicas, os médicos e enfermeiros, profissionais que, por fazerem falta, não podem ser penalizados e os empregados de autarquias, igualmente com um estatuto especial, que mais “engrevaram” no passado dia 31.

Que fazer? Dou uma sugestão. Para a próxima os Sindicatos façam uma greve virtual. Toda a gente vai trabalhar normalmente - o que é óptimo porque ninguém perde o salário - e, quem quiser aderir, coloca um autocolante na lapela com a frase “Estou em greve”, podendo fazer pequenas manifestações na hora do almoço ou após a saída.

O efeito televisivo será muito maior, a CGTP lucra uma data de massa com os autocolantes e, como é fácil, muito mais gente vai aderir. Ainda por cima sem consequências legais.

Estamos no século XXI. Evoluam senhores doutores sindicalistas.

Um "supônhamos"

"O sul tem um defeito, que é o facto de precisar de pontes para passar para o lado norte. Suponha que é dinamitada uma ponte, suponha."

(frase de Almeida Santos, a propósito da localização do novo aeroporto)

Este consegue dizer ainda mais disparates que o Ministro das Obras Públicas em apenas duas frases! Sim, claro, porque do norte para o sul vai-se a nado, é tranquilo. E os terroristas teriam de esperar a construção de novas pontes para poder dinamitar uma, pois temos poucas em Portugal...

Agora um "supônhamos": a familía deste senhor arranjava-lhe um lar de terceira idade com cuidados e vigilância permanentes...isto não acontecia, não é verdade?! Mas no norte, claro...

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Tomar partido

A queda da Câmara Municipal de Lisboa trouxe à luz do dia alguns factos, no mínimo impressionantes.

Que os vereadores encarregues dos diversos sectores em que se divide a actividade da autarquia tenham assessores, que os ajudem a levar a bom porto as tarefas que lhes estão confiadas, ainda se compreende. Poderemos, como é óbvio, questionar a quantidade ou, no limite, se poderiam ser utilizados os próprios trabalhadores municipais em vez de “boys” ou “girls” contratados pelos partidos que suportam esses vereadores.

O que surpreende é o facto de os eleitos sem pelouro também terem esse tipo de assessorias.

Vem isto a propósito do José Sá Fernandes, moralizador, fiscalizador e “chateador” mor das obras da Câmara: Tinha onze-assessores-onze ao seu serviço. Questionado sobre essa suposta imoralidade o líder do BE na Assembleia Municipal – Carlos Marques – declarou, com aparente ingenuidade, que tal número se devia a um acordo com o Carmona Rodrigues.

Ora se o BE tinha direito a onze-assesores-onze para um único vereador, imaginemos o PS com cinco, a CDU com dois e o CDS com um.

Como diria o Guterres é só fazer as contas…

Pelos vistos o Carmona era aquilo que se designa por um tipo porreiro.

Imbuído de um certo espírito de equidade permitia que a pouca vergonha do mamanço na teta da Câmara se estendesse a todos os partidos.

Curiosamente nenhum dos co-prevaricadores (sobretudo da oposição) denunciou essa “bondade” do Presidente em vez de se aproveitar dela.

Bela moral.

Carmona Rodrigues afirmou “ter sido eleito pelos lisboetas e derrubado pelos partidos.” Devia ter podido cumprir o seu mandato de quatro anos e então ser julgado pelos eleitores.

Por isso e também por, aparentemente, ter sido um tipo porreiro merece ganhar estas eleições intercalares. Não sei se, dadas as forças em presença, o vai conseguir.

Mas que era engraçado, lá isso era.

domingo, 27 de maio de 2007

ASSEMBLEIA GERAL ESCÓRIA

Sexta-Feira 25 de Maio

Realizou-se mais uma AGE (ASSEMBLEIA GERAL ESCÓRIA), repartida pelo Restaurante "O Saloio", na Rua Heróis de Quionga e o bar CHAFARICA.

A ordem de trabalhos consistiu numa entrada de caracóis e pratos principais de sardinhas assadas e choquinhos à algarvia, seguida de sobremesas variadas. Na Chafarica ficámos pelas caipirinhas.

Ressaltou uma crescente oposição à actual situação política do país sem, no entanto, vislumbrarmos uma alternativa viável (pelo menos para já).

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Nome Colectivo

Quando oiço a palavra “Escória” são muitas as coisas que me vêm à cabeça, mas nenhuma delas está no dicionário ou na enciclopédia.
Provavelmente essas mesmas ideias que me ocorrem nada são ou muito pouco serão quando comparadas com tudo o que a Escória representa para vocês, outros leitores e colaboradores da Escória-virtual, para vocês fundadores, os mesmos de há 30 anos.
A inveja é um sentimento muito feio, não há dúvida, mas de vez em quando não lhe conseguimos escapar...tocando-nos, por fim, a todos. Neste caso, sinto aquela “inveja-que-não-faz-mal-a-ninguém”, em relação a vocês, os tais “de há mais de 30 anos”.
Lamechice: não há coisa mais bonita que uma amizade de uma vida. Lamechice que é verdade, que é realidade, que são vocês.
Eu, que me sinto uma pequena parte de vós (filho de escória, escória é!), já ouvi centenas das vossas histórias e estórias e acabo sempre assim : “Caramba, como é que conseguem?! Quem me dera...”
Não peço nem espero resposta porque há coisas que mal ou nunca se explicam (fico à espera de umas “Memórias”), simplesmente gostava de ter um grupo de amigos com os quais, daqui a 30 anos, tal como vocês, beberei uns copos e contarei histórias da juventude com “felicidade” escrito na testa.
Tenho amigos que sei serem para a vida, tenho outros que também sei terem ficado pelo caminho, mas vocês têm outra coisa: a Escória! É um nome colectivo, uma colmeia, um pelotão, um coro. É uma equipa de futebol dos anos 60, não pelos cabelos brancos, mas pelo amor à camisola, pela entrega, pela unidade. Só assim também é que sabem sobreviver ao “até breve” daqueles apressados que já partiram. Esses que estão em cada um de vós (de nós, aliás), esses que ficaram no B.I. com o apelido “Escória”.
Tudo isto só para explicar porque vou votar na “Escória” para uma das 7 maravilhas do mundo!
Um abraço.

domingo, 20 de maio de 2007

Dos jornais: "... emigrantes portugueses escravos em Espanha, salvos pela Guardia Civil..."


Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não

Manuel Freire



Portugal, 2007.
Quando os executivos camarários, sob responsabilidade da coligação Socialista / Comunista, levaram a cabo a louvável tarefa de acabar com as barracas, fizeram-no utilizando o método humanista de preservar os conjuntos populacionais como existiam anteriormente.

Quer fosse no mesmo local, quer relativamente próximo quando o espaço original ficou adstrito a outro fim, foram criadas condições para que a mobilidade e a separação dos habitantes dos extintos bairros de lata fosse mínima ou até inexistente.

Genericamente existiu uma espécie de transplante, em bloco, daquelas pessoas, para os novos edifícios acabados de construir, assim preservando os laços familiares e de vizinhança, tão caros às ideias generosas da geração (que é também a minha) que, uma vez no poder, procurou, por todos os meios e rapidamente, erradicar esse flagelo social da nossa cidade de Lisboa.

O passar do tempo veio – infelizmente – confrontar-nos com a dura realidade.

Com efeito as consequências desse modo de realojar começam, cada vez mais, a fazer parte do nosso quotidiano e, pior ainda, sendo irreversíveis, vão condicionar, por muitos anos, as gerações que nos sucederem, transformando a nossa bela Lisboa numa cidade semelhante a muitas outras que existem por esse mundo fora e onde, a par com condomínios fechados de luxo, pululam os novos bairros de realojamento geradores de insegurança, quer no seu próprio interior, quer nas redondezas, nomeadamente nos bairros da classe média, não fechados por muros e sem segurança privada.

Não basta oferecer casas melhores que as barracas, colocar meia dúzia de funcionários e assistentes sociais, para, como num passe de mágica, criar locais de habitação dignos da nossa cidade.

A falta de educação, o desemprego ou o emprego precário, a sobrevivência à custa de expedientes, a delinquência familiar e as diferenças culturais estão normalmente associadas à habitação pouco condigna.

Uma vez nas novas casas, até pela ausência de estímulos positivos, as pessoas tendem a recriar o mesmo ambiente que conheciam nos bairros de barracas; o desleixo rapidamente faz avariar os elevadores, os vidros partidos são substituídos por cartões e o lixo toma conta dos espaços comuns com a maior das facilidades.

Num prazo relativamente curto as novas casas transformam-se em barracas sobrepostas.

Depois começam, em série, a reaparecer os estigmas associados às situações anteriores: A polícia que, até pela inexistência de efectivos, não tem uma presença preventiva e de proximidade, quando aparece é quase em autênticas operações de guerra geradoras de revolta entre os, felizmente muitos, habitantes honestos, trabalhadores e cumpridores dos seus deveres de cidadania.

Já estamos suficientemente afastados no tempo para podermos concluir, sem receio de epítetos menos próprios, que nem tudo o que foi feito durante o chamado Estado Novo foi necessariamente mau ou ineficiente. No grupo das situações positivas teremos de considerar os chamados Bairros Sociais, geradores, por um lado, de autênticas miscigenações sociais, com famílias de diferentes classes e estratos económicos a viverem nos mesmos arruamentos e até nos mesmos prédios, misturando agregados provenientes de realojamentos com outros da classe média (empregados de comércio, professores dos diversos graus de ensino, operários especializados, membros das forças armadas e militarizadas, polícias…) e, por outro, com a individualização familiar, de quebras de cadeias de vizinhança anterior em locais degradados da cidade.

Estão neste lote Ajuda, Casalinho, Caramão, bairro de Alvalade, Madre de Deus, Alvito, Encarnação, Olivais, entre outros.

Comparemo-los com as várias Chelas, o novo Casal Ventojo, a Quinta do Charquinho, as Murtas, o Fonsecas e Calçada, etc..., etc..., etc...

A conclusão é evidente.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Embora esteja a defecar para a política lá fui assinar o papelinho para a candidatura da Helena Roseta. Não tenho apreço especial pela senhora nem pelas suas eventuais qualidades, mas sim um enorme prazer em chatear o bacharel que nos governa.
Já temos o túnel do Marquês em funcionamento.

Pouco distingue este túnel dos que têm sido feitos, desde há mais de trinta e cinco anos, em Lisboa. Desde o desnivelamento do cruzamento das Avenidas de Roma e Estados Unidos e da passagem subterrânea do Largo de Entrecampos, no tempo do Santos e Castro, passando pelos dois túneis (Campo Grande e Campo Pequeno) do Jorge Sampaio, pelo da Avenida João XXI, do João Soares, até outros mais recentes, como o conjunto que, em várias parcelas, percorre a Avenida Infante D. Henrique até Moscavide (Santana Lopes/Carmona), a razão foi sempre a melhoria do trânsito na cidade. Obviamente que, com o tempo, todos trazem mais carros, transformando-se, a prazo, em autênticos buracos engarrafados de veículos.

Quem, no entanto, imagina que não os construindo impede este flagelo que diariamente agride a nossa cidade pode perder as ilusões. Como no nosso tempo ninguém toma nenhum tipo de atitude apenas porque lhe é sugerida, só com uma política concorrencial dos transportes públicos, nomeadamente do Metropolitano, poderemos melhorar a procura destes meios privilegiados de deslocação no interior das cidades.

Apesar de irem sendo construídas algumas linhas, tudo se passa demasiado lentamente, mormente na efectivação das chamadas ligações transversais, das quais apenas uma (entre a Alameda e S. Sebastião) será inaugurada a curto prazo. Faltam ligações importantes a Campolide e Campo de Ourique; as zonas ocidentais (Ajuda, o recuperado Parque de Monsanto, o Restelo e a parte mais populosa de Benfica) ainda não são servidas; a linha verde parou na ponta de Telheiras; falta uma estação entre Areeiro e Roma; o Aeroporto, independentemente de vir a desaparecer, já deveria ter Metro desde há muitos anos; a desastrosa opção pela ligação a Santa Apolónia, via Rio Tejo, com todas as consequências patrimoniais para a Baixa Pombalina, uma vez que os túneis podem vir a impedir a chegada de água do rio às madeiras que suportam as fundações dos prédios, podendo, a médio prazo provocar a sua derrocada, já deveria ter sido substituída por uma outra que, partindo de Arroios, servisse, pelo caminho, os populosos bairros da Graça, das Colónias e toda a nova zona habitacional entre a Praça Paiva Couceiro e o rio.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Declaração de princípios do Movimento Anarquista Escória

O paleletismo autotrófico do ego transcendente que se projecta no arquetismo protótipo do antropomorfismo universal.

Apopleticamente digestivo tornar-se-ía gradativamente perene se coisificasse a presunção genital da vivificação etérea que pleuristicamente hebdomina a plurificação ebúrnea da clarividência prosélica.

A hegemonia filantrópica do contorcionismo exacerbado olvidou a biosincrasia que as distorções coniventes rotacionam na petulância da incongruência fleimonosa, obumbrando as catarses dos arquétipos misógenos que gravitam no hiperurânio da boçalidade virtuosa.