TUDO ACEITA E NADA MERECE

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Tomar partido

A queda da Câmara Municipal de Lisboa trouxe à luz do dia alguns factos, no mínimo impressionantes.

Que os vereadores encarregues dos diversos sectores em que se divide a actividade da autarquia tenham assessores, que os ajudem a levar a bom porto as tarefas que lhes estão confiadas, ainda se compreende. Poderemos, como é óbvio, questionar a quantidade ou, no limite, se poderiam ser utilizados os próprios trabalhadores municipais em vez de “boys” ou “girls” contratados pelos partidos que suportam esses vereadores.

O que surpreende é o facto de os eleitos sem pelouro também terem esse tipo de assessorias.

Vem isto a propósito do José Sá Fernandes, moralizador, fiscalizador e “chateador” mor das obras da Câmara: Tinha onze-assessores-onze ao seu serviço. Questionado sobre essa suposta imoralidade o líder do BE na Assembleia Municipal – Carlos Marques – declarou, com aparente ingenuidade, que tal número se devia a um acordo com o Carmona Rodrigues.

Ora se o BE tinha direito a onze-assesores-onze para um único vereador, imaginemos o PS com cinco, a CDU com dois e o CDS com um.

Como diria o Guterres é só fazer as contas…

Pelos vistos o Carmona era aquilo que se designa por um tipo porreiro.

Imbuído de um certo espírito de equidade permitia que a pouca vergonha do mamanço na teta da Câmara se estendesse a todos os partidos.

Curiosamente nenhum dos co-prevaricadores (sobretudo da oposição) denunciou essa “bondade” do Presidente em vez de se aproveitar dela.

Bela moral.

Carmona Rodrigues afirmou “ter sido eleito pelos lisboetas e derrubado pelos partidos.” Devia ter podido cumprir o seu mandato de quatro anos e então ser julgado pelos eleitores.

Por isso e também por, aparentemente, ter sido um tipo porreiro merece ganhar estas eleições intercalares. Não sei se, dadas as forças em presença, o vai conseguir.

Mas que era engraçado, lá isso era.

domingo, 27 de maio de 2007

ASSEMBLEIA GERAL ESCÓRIA

Sexta-Feira 25 de Maio

Realizou-se mais uma AGE (ASSEMBLEIA GERAL ESCÓRIA), repartida pelo Restaurante "O Saloio", na Rua Heróis de Quionga e o bar CHAFARICA.

A ordem de trabalhos consistiu numa entrada de caracóis e pratos principais de sardinhas assadas e choquinhos à algarvia, seguida de sobremesas variadas. Na Chafarica ficámos pelas caipirinhas.

Ressaltou uma crescente oposição à actual situação política do país sem, no entanto, vislumbrarmos uma alternativa viável (pelo menos para já).

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Nome Colectivo

Quando oiço a palavra “Escória” são muitas as coisas que me vêm à cabeça, mas nenhuma delas está no dicionário ou na enciclopédia.
Provavelmente essas mesmas ideias que me ocorrem nada são ou muito pouco serão quando comparadas com tudo o que a Escória representa para vocês, outros leitores e colaboradores da Escória-virtual, para vocês fundadores, os mesmos de há 30 anos.
A inveja é um sentimento muito feio, não há dúvida, mas de vez em quando não lhe conseguimos escapar...tocando-nos, por fim, a todos. Neste caso, sinto aquela “inveja-que-não-faz-mal-a-ninguém”, em relação a vocês, os tais “de há mais de 30 anos”.
Lamechice: não há coisa mais bonita que uma amizade de uma vida. Lamechice que é verdade, que é realidade, que são vocês.
Eu, que me sinto uma pequena parte de vós (filho de escória, escória é!), já ouvi centenas das vossas histórias e estórias e acabo sempre assim : “Caramba, como é que conseguem?! Quem me dera...”
Não peço nem espero resposta porque há coisas que mal ou nunca se explicam (fico à espera de umas “Memórias”), simplesmente gostava de ter um grupo de amigos com os quais, daqui a 30 anos, tal como vocês, beberei uns copos e contarei histórias da juventude com “felicidade” escrito na testa.
Tenho amigos que sei serem para a vida, tenho outros que também sei terem ficado pelo caminho, mas vocês têm outra coisa: a Escória! É um nome colectivo, uma colmeia, um pelotão, um coro. É uma equipa de futebol dos anos 60, não pelos cabelos brancos, mas pelo amor à camisola, pela entrega, pela unidade. Só assim também é que sabem sobreviver ao “até breve” daqueles apressados que já partiram. Esses que estão em cada um de vós (de nós, aliás), esses que ficaram no B.I. com o apelido “Escória”.
Tudo isto só para explicar porque vou votar na “Escória” para uma das 7 maravilhas do mundo!
Um abraço.

domingo, 20 de maio de 2007

Dos jornais: "... emigrantes portugueses escravos em Espanha, salvos pela Guardia Civil..."


Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não

Manuel Freire



Portugal, 2007.
Quando os executivos camarários, sob responsabilidade da coligação Socialista / Comunista, levaram a cabo a louvável tarefa de acabar com as barracas, fizeram-no utilizando o método humanista de preservar os conjuntos populacionais como existiam anteriormente.

Quer fosse no mesmo local, quer relativamente próximo quando o espaço original ficou adstrito a outro fim, foram criadas condições para que a mobilidade e a separação dos habitantes dos extintos bairros de lata fosse mínima ou até inexistente.

Genericamente existiu uma espécie de transplante, em bloco, daquelas pessoas, para os novos edifícios acabados de construir, assim preservando os laços familiares e de vizinhança, tão caros às ideias generosas da geração (que é também a minha) que, uma vez no poder, procurou, por todos os meios e rapidamente, erradicar esse flagelo social da nossa cidade de Lisboa.

O passar do tempo veio – infelizmente – confrontar-nos com a dura realidade.

Com efeito as consequências desse modo de realojar começam, cada vez mais, a fazer parte do nosso quotidiano e, pior ainda, sendo irreversíveis, vão condicionar, por muitos anos, as gerações que nos sucederem, transformando a nossa bela Lisboa numa cidade semelhante a muitas outras que existem por esse mundo fora e onde, a par com condomínios fechados de luxo, pululam os novos bairros de realojamento geradores de insegurança, quer no seu próprio interior, quer nas redondezas, nomeadamente nos bairros da classe média, não fechados por muros e sem segurança privada.

Não basta oferecer casas melhores que as barracas, colocar meia dúzia de funcionários e assistentes sociais, para, como num passe de mágica, criar locais de habitação dignos da nossa cidade.

A falta de educação, o desemprego ou o emprego precário, a sobrevivência à custa de expedientes, a delinquência familiar e as diferenças culturais estão normalmente associadas à habitação pouco condigna.

Uma vez nas novas casas, até pela ausência de estímulos positivos, as pessoas tendem a recriar o mesmo ambiente que conheciam nos bairros de barracas; o desleixo rapidamente faz avariar os elevadores, os vidros partidos são substituídos por cartões e o lixo toma conta dos espaços comuns com a maior das facilidades.

Num prazo relativamente curto as novas casas transformam-se em barracas sobrepostas.

Depois começam, em série, a reaparecer os estigmas associados às situações anteriores: A polícia que, até pela inexistência de efectivos, não tem uma presença preventiva e de proximidade, quando aparece é quase em autênticas operações de guerra geradoras de revolta entre os, felizmente muitos, habitantes honestos, trabalhadores e cumpridores dos seus deveres de cidadania.

Já estamos suficientemente afastados no tempo para podermos concluir, sem receio de epítetos menos próprios, que nem tudo o que foi feito durante o chamado Estado Novo foi necessariamente mau ou ineficiente. No grupo das situações positivas teremos de considerar os chamados Bairros Sociais, geradores, por um lado, de autênticas miscigenações sociais, com famílias de diferentes classes e estratos económicos a viverem nos mesmos arruamentos e até nos mesmos prédios, misturando agregados provenientes de realojamentos com outros da classe média (empregados de comércio, professores dos diversos graus de ensino, operários especializados, membros das forças armadas e militarizadas, polícias…) e, por outro, com a individualização familiar, de quebras de cadeias de vizinhança anterior em locais degradados da cidade.

Estão neste lote Ajuda, Casalinho, Caramão, bairro de Alvalade, Madre de Deus, Alvito, Encarnação, Olivais, entre outros.

Comparemo-los com as várias Chelas, o novo Casal Ventojo, a Quinta do Charquinho, as Murtas, o Fonsecas e Calçada, etc..., etc..., etc...

A conclusão é evidente.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Embora esteja a defecar para a política lá fui assinar o papelinho para a candidatura da Helena Roseta. Não tenho apreço especial pela senhora nem pelas suas eventuais qualidades, mas sim um enorme prazer em chatear o bacharel que nos governa.
Já temos o túnel do Marquês em funcionamento.

Pouco distingue este túnel dos que têm sido feitos, desde há mais de trinta e cinco anos, em Lisboa. Desde o desnivelamento do cruzamento das Avenidas de Roma e Estados Unidos e da passagem subterrânea do Largo de Entrecampos, no tempo do Santos e Castro, passando pelos dois túneis (Campo Grande e Campo Pequeno) do Jorge Sampaio, pelo da Avenida João XXI, do João Soares, até outros mais recentes, como o conjunto que, em várias parcelas, percorre a Avenida Infante D. Henrique até Moscavide (Santana Lopes/Carmona), a razão foi sempre a melhoria do trânsito na cidade. Obviamente que, com o tempo, todos trazem mais carros, transformando-se, a prazo, em autênticos buracos engarrafados de veículos.

Quem, no entanto, imagina que não os construindo impede este flagelo que diariamente agride a nossa cidade pode perder as ilusões. Como no nosso tempo ninguém toma nenhum tipo de atitude apenas porque lhe é sugerida, só com uma política concorrencial dos transportes públicos, nomeadamente do Metropolitano, poderemos melhorar a procura destes meios privilegiados de deslocação no interior das cidades.

Apesar de irem sendo construídas algumas linhas, tudo se passa demasiado lentamente, mormente na efectivação das chamadas ligações transversais, das quais apenas uma (entre a Alameda e S. Sebastião) será inaugurada a curto prazo. Faltam ligações importantes a Campolide e Campo de Ourique; as zonas ocidentais (Ajuda, o recuperado Parque de Monsanto, o Restelo e a parte mais populosa de Benfica) ainda não são servidas; a linha verde parou na ponta de Telheiras; falta uma estação entre Areeiro e Roma; o Aeroporto, independentemente de vir a desaparecer, já deveria ter Metro desde há muitos anos; a desastrosa opção pela ligação a Santa Apolónia, via Rio Tejo, com todas as consequências patrimoniais para a Baixa Pombalina, uma vez que os túneis podem vir a impedir a chegada de água do rio às madeiras que suportam as fundações dos prédios, podendo, a médio prazo provocar a sua derrocada, já deveria ter sido substituída por uma outra que, partindo de Arroios, servisse, pelo caminho, os populosos bairros da Graça, das Colónias e toda a nova zona habitacional entre a Praça Paiva Couceiro e o rio.