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domingo, 13 de janeiro de 2008

"A ARTE DE PEIDAR" - Apontamentos de filosofia Escória

CAPÍTULO I

«DEFINIÇÃO DO PEIDO EM GERAL»
«O peido, chamado em grego “pordê”, em latim “crepitus ventris”, no antigo saxão “partin” ou “furtin”, no alto alemão “fartzen”e no inglês “fart”, é um composto de ventos que ora sai com ruído, ora se manifesta surdo e silencioso.
Autores teimosos, porém audaciosos, em pleno absurdo sustentam com arrogância e persistência (apesar de Calepino[1] e dos mais dicionários feitos ou a fazer) que a palavra peido propriamente dita, isto é, no genuíno sentido, só deve aplicar-se à espécie ruidosa. O seu raciocínio vai buscar apoio num verso de Horácio que não basta à completa noção de peido:
“Nam displosa sonat quantum Vesica pepedi”. SAT.8., que é como quem diz: tal barulho fez meu peido, que uma bexiga eu poderia ter rebentado.
Fácil é concluir, porém, que no seu verso Horácio utilizou a palavra “pedere”, ou seja peidar no sentido genérico, e para lhe dar a qualidade de som claro, restringiu-se ao peido que rebenta à saída. Saint Evremond, filósofo tão amável como despeitado, tinha do peido ideia diferente da vulgar pois não passava, na sua opinião, de suspiro. Vejamos o que à sua amante ele disse por ter dado um peido, certa vez, na sua presença:

Meu coração, que a má vida desgraçou,
Com suspiros engordou.
De feição mui radical,
Um deles não sai pela boca
Mas também me não sufoca:
Procuro o outro canal.

No mais amplo sentido, o peido é vento retido no baixo ventre e, na opinião dos médicos, causado por uma pituíta resfriada que um calor brando atenua e destaca sem dissolver; ou então, segundo os camponeses e a voz comum, devido ao uso de ingredientes ventosos ou alimentos de igual natureza. Ainda podemos defini-lo como ar comprimido que percorre as partes internas do corpo buscando uma saída e acabando em libertar-se, precipitado, ao achar aquela que o decoro me impede de citar.
Mas não ocultaremos o que quer que seja. O peido é um ser que se exprime no ânus, com ruído ou sem ele. Por vezes liberta-o a natureza com esforço, pedindo noutras o recurso da arte que lhe dá saída fácil e deleitosa, não raro cheia de volúpia. Daqui o provérbio:

Viver saudável e sem tormento,
Só dando ao cu todo o seu vento.

Voltemos, porém, à nossa definição, provando que observa asregras mais sãs da filosofia pois contém o género, a matéria e a diferença (quia nempe constat genere, matéria e differentia):
1º Contém todas as causas e todas as espécies; veremos quais e segundo a sua ordem;
2º Ao ser constante no género, não duvidemos de que será, também, na causa remota que engendra os ventos, a saber: a pituíta e os alimentos magros. Discutamo-lo, pois, com fundamento, antes de metermos o nariz nas espécies.
Afirmamos que a matéria do peido é morna e ligeiramente magra. Como sabemos, nos países mais quentes e nos mais frios nunca chove, já que o calor absorve nos primeiros toda a espécie de fumos e vapores, e o gelo excessivo impede nos segundos a exalação dos fumos. Pelo contrário, nos climas intermédios, temperados, chove (como assisadamente notaram Bodin, Scaliger e Cardin). Sendo excessivo o calor, não só ele mói e enfraquece os alimentos como dissolve e consome todos os vapores, coisa que o frio não sabe fazer impedindo, até, que se produza o mais pequeno fumo. Num ambiente suave e temperado tudo se passa de maneira diversa, não permitindo a sua amenidade que ele coza por completo os alimentos e, amolecendo-os apenas ao de leve, pode a pituíta do ventrículo e dos intestinos levantar ventos, tanto mais enérgicos quanto ventosos os alimentos que fermentam nesse calor brando, produzindo fumos muitos espessos e em turbilhão. Isto é bem claro se compararmos a primavera e o outono com o verão e o Inverno, se atentarmos, por exemplo, na arte da destilação a fogo lento »
(continua)

transcrição integral de “L’ART DE PÉTER” de Conde de La Trompete
[1] Dicionário de latim de Ambrogio Calepino, monge italiano do séc. XV

1 comentário:

Xico do Canto disse...

Exerc´cios práticos em:
http://www.osvigaristas.com.br/animacoes/interativas/tipos-de-peidos-41.html

É só prá malta saber do que estás a filosofar.