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quinta-feira, 13 de março de 2008

CARTA ESCRITA NO ANO 2070


Ano 2070.

Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém com 85.

Tenho sérios problemas renais porque bebo pouca água.
Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos.
Tudo era muito diferente.

Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia disfrutar de um banho de chuveiro de aproximadamente uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.

Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras.
Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem água.

Antes, meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira.
Hoje as crianças não acreditam que utilizávamos a água dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção. Pensávamos que a água jamais se poderia esgotar.

Agora, todos os rios, barragens, lagos e lençois aquíferos estão irremediávelmente contaminados ou esgotados.

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.

As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário.

Os assaltos por um garrafão de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética.

Antes, a quantidade de água indicada como ideal para se beber era oito copos por dia, por pessoa adulta.
Hoje só posso beber meio copo.

A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas sépticas como no século passado porque a rede de esgotos não funciona por falta de água.

A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de fridas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a camada de ozono que os filtrava na atmosfera.

Com o resecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água, o oxigénio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.

Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos.
Como consequência, há muitas crianças com insuficiências, mutações e deformações.

O governo até cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia por habitante adulto.
Quem não pode pagar é retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar.
Não são de boa qualidade, mas pode-se respirar…
A idade média é de 35 anos.

Nalguns países restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército.
A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes

Aqui não há árvores porque quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é de chuva ácida.
As estações do ano foram severamente transformadas pelos ensaios atómicos e pela poluição das indústrias do século XX.
Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.

Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o quanto belos eram os bosques.
Falo-lhe da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse.
O quanto nós éramos saudáveis!


Ela pergunta-me:
Pai! Porque é que a água acabou?
Então, aí sinto um nó na garganta!


Não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos.
Agora, nossos filhos pagam um preço tão elevado...


Sinceramente, creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreenda isto...


...enquanto ainda é possível fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!

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