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terça-feira, 22 de julho de 2008

Endividados

A história é simples e conta-se em breves palavras: Numa das televisões generalistas um jovem casal desfaz-se em lágrimas. Passaram a fazer parte desta nova classe que se convencionou chamar os Endividados. A opinião pública, longe de os criticar ou apontar como maus exemplos, defende-os e acusa os horrendos bancos de os terem obrigado a contrair dívidas.

A alusão à culpa dos bancos – já de si ridícula – espelha bem o estado de atrofia a que chegou a sociedade Portuguesa.

Vejamos:

Os dois estão na casa dos vinte e tal. Estão casados ou juntos, já têm um filho e esperam outro. Um dos elementos do casal está desempregado. Não se pode dizer que falte o trabalho, apenas o “emprego”. Têm o crédito da casa, das mobílias, não falta o plasma adquirido para um qualquer campeonato do mundo ou da Europa, a assinatura da SportTv, a lua-de-mel e as férias em Cuba ou na República Dominicana. E o carro, evidentemente, no caso, tem uma história ainda mais típica: Não chegava um chaço em segunda mão ou até um modesto utilitário em primeira. Teve de ser um VW Golf (aí para cima de 17 ou 18 mil euros). Passados poucos meses o chavalito espetou-se contra uma árvore. Tendo essa viatura fama de segura, supõe-se que o menino gosta de acelerar. Como o seguro tem uma franquia e o carro ainda não estava (nem de perto nem de longe) pago, foi necessário mais um empréstimo para, liquidando o anterior, poder receber a indemnização. E, já agora, mais outro (certamente superior, devido às desvalorizações brutais dos automóveis, nos primeiros anos) para um novo popó. No mínimo com os cavalos e as acelerações dos zero aos cem do anterior.

Diz-se para aí que os culpados somos “nós”, a geração dos vinte anos em 74, que, por termos tido vidas menos fáceis, educámos as gerações mais novas neste tipo de vida em que – pensavam - bastou a adesão à CEE para tornar Portugal um país europeu.

É provável que haja alguma razão, pelo menos no que respeita a alguns portugueses.

Mas será isso suficiente para nos incluir a nós, os que até tínhamos provavelmente condições de base para ficar na cepa torta e que soubemos ultrapassar e lutar contra isso, com trabalho árduo, estudo e juizinho no que toca aos gastos, construindo paulatinamente situações que, embora diversas, são dignas e nunca se quedaram consolidadas antes dos 40 anos?

Já chega. Chega de casas para gerações e gerações de ciganos e agora, quem sabe, se calhar a pretexto da culpa dos bancos, ajudas aos endividados. Será que aos nossos filhos alguém vai oferecer casas?

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