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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Meus Ricos quatro contos quinhentos e cinquenta

Crónicas da minha rua

Meus Ricos quatro contos quinhentos e cinquenta


O seu nome, sussurrado entre os que o conheciam de vista, era: - “Dótor Trombeiro”. Assim mesmo com um ó bem aberto e sem u. Deste modo, acentuava-se a componente sarcástica e pejorativa, da alcunha. O “Dótor”, tinha sido durante muitos anos, professor de Filosofia e de História no Liceu Passos Manuel, em Lisboa. O “Trombeiro” vinha do facto de ele, sendo velho, continuar sexualmente muito activo, quer com olhares e convites a senhoras de várias idades e condições sociais, quer através do pagamento de serviços a senhoras que não estavam dispostas a prestar-lhos gratuitamente. Com aquela idade e com tanto apetite sexual, algum invejoso achou que o homem não deveria ter actividade sexual para além da língua e, como tal, espetou-lhe com a odiosa alcunha de “Trombeiro” .
No tempo em que, estudar no café era, não apenas um hábito mas também uma necessidade e, muitas vezes, a única possibilidade, o nosso doutor, frequentava pelo menos uma dúzia de cafés diferentes. Estava geralmente acompanhada duma presença feminina que variava consoante as horas do dia mas também com a altura do mês. Tal variedade, obrigava a um contínuo e porfiado trabalho de côrte e também a uma certa disponibilidade financeira. O Doutor não se inibia por isso, de, mesmo acompanhado, oferecer os seus préstimos a todas e quaisquer estudantes que estivessem nas imediações. Podiam contar com ele para a Filosofia, para a História e, para o resto.

O Homem era vivaço e sabidão mas, há sempre alguém que nalguma altura nos leva a melhor.

Certo dia, com a sapiência senil que nos leva sempre a achar que ainda somos bonitos, charmosos e capazes de despertar o interesse das jovens, o nosso Dótor, perdeu-se de amores por uma donzela apenas 30 anos mais nova mas já muito rodada nas engrenagens da vida. Nessa mesma tarde aprontaram uma “sesta” numa das pensões da Rua Gonçalves Crespo e o nosso destemido amante, depressa se libertou das roupas e ficou em culotes face à jovem princesa. O fogoso “cabrito” nem deu por isso mas a nossa valquíria a pretexto de ir à casa de banho, pisgou-se porta fora com a carteira do nosso herói. Ainda se ouviram os impropérios próprios para tal ocasião mas a flausina, convertida de princesa em puta, pela boca do nosso homem, é que é nunca mais apareceu.

Nessa mesma tarde, mal recomposto da aventura, o Dótor Trombeiro, enquanto tomava um galão morninho e comia uma torrada com pouca manteiga queixava-se amargamente ao confidente de sempre, um dos empregados de mesa do Café Rialto.
- Já viste o meu azar ó Joaquim. Aquela puta ficou-se a rir e ainda me levou a carteira. Meus ricos quatro contos quinhentos e cinquenta.

Os estudantes do costume, em que se incluiam ilustres membros desta grande fraternidade escória, não puderam deixar de se "cú mover", entre risadas de escárnio, olhares trocistas e gestos obscenos, comentando entre si: "Coitado do Dótor Trombeiro; mais valia ficar pelas lambusices e deixar de ser putanheiro"
Toma que é para aprenderes.

MORAL DA HISTÓRIA

"Quem nasceu para lamber não queira lagosta comer".

ou ainda como homenagem ao nosso amigo Júlio César e ao preço manifestamente exagerado de alguns bicos

"Quem num broche os olhos revirar é melhor a carteira não levar"

2 comentários:

Zé Costa disse...

E claro está, para pouca saúde, vale mais nenhuma.

escória-porco disse...

Esta foi de chorar a rir; (ainda por cima lembro-me bem da figura e da voz).