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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Poesia

A poesia de Rui Barbosa (poeta brasileiro), apresentada a seguir, poderia ter sido escrita hoje, sem mudar uma palavra.
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SINTO VERGONHA DE MIM Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
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Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-Mater da sociedade, a demasiada preocupação com o 'eu' feliz a qualquer custo, buscando a tal 'felicidade' em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
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Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos 'floreios' para justificar actos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre 'contestar',voltar atrá se mudar o futuro.
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Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...
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Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.
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Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
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Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo!
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'De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus ,o homem chega a desanimar da virtude, A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto'.
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Rui Barbosa

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