Falo dos ciganos. Pode parecer estranho ao politicamente correcto mas a realidade diária encarrega-se de demonstrar o contrário do que é propalado:
Primeiro: São uma comunidade trabalhadora (quem achar que vender numa feira, marcar o lugar com antecedência, procurar e negociar os refugos, os produtos com defeito, obter as contrafacções sabendo que o risco fica apenas do seu lado, fazer centenas ou milhares de quilómetros para localidade tão diferentes quantas as feiras que este rectângulo tem, não é trabalho, é porque pertence ao lote dos favorecidos das 9 às 5, com meias horas para café e tabaco).
Segundo: Antes de lhes terem dado a primeira benesse nunca tinham pedido nada. Apenas que os deixassem ter a sua vida, as suas tradições, o seu nomadismo, a sua discriminação sexista, a sua violência (normalmente mais interna que externa) e, essencialmente, uma vida isenta de contaminações civilizacionais.
Terceiro: Ao contrário de nós, que somos civilizados, modernos e outras merdas, eles nunca desprezam as crianças (especialmente as do sexo masculino são autênticos príncipes) e, quanto aos velhos, então nem é preciso argumentar em demasia: Não se vêem ciganos abandonados em lares. Além disso, como a evolução tecnológica, relacionada com a facilidade de aceder, via Internet, ao conhecimento superficial e aparente, ainda é diminuta, entre essas gentes, essas camadas etárias mais avançadas são fonte de repositórios essenciais no que toca às tradições e modos de vida fundamentais à manutenção das estruturas básicas em que assentam.
Nos oitentas grupos de malta bem intencionada, apesar de – repito – nada lhes ter sido pedido, acharam que era fixe e moderno, “civilizacionar” essa gente, do género “nós é que sabemos o que é melhor para ti…”. E, vai daí desataram a construir prédios, normalmente autênticas aberrações arquitectónicas, para onde transferiram, não as barracas, mas o seu conteúdo, numa espécie de contrato virtual que podia rezar assim: nós (os bons) oferecemo-vos casas para que vocês (a merda) possam viver mais ou menos como nós. Em contrapartida vocês ficam, de imediato e como que por encanto, civilizados e deixam de enganar, roubar, passam a pagar as rendas, os impostos, mandam os filhos à escola…
Como bónus passam desde já a receber o rendimento mínimo e não se fala mais nisso.
Gajos que pensam assim são vistos, todos os anos, pelo mês de Dezembro, a fazer broches a tipos vestidos de Pai Natal, que lhes acariciam os caracóis ou as carecas, conforme exista ou não “florestação” capilar. É preciso não perceber nada de nada para pensar que as chamadas integrações se fazem por decreto ou por intenção das almas superiores. Como é evidente, uma vez percebendo a posição de superioridade que lhes era oferecida, a ciganada começou a querer cada vez mais, oferendo cada vez menos e mantendo toda a estrutura de vida que alegremente tinha sido a sua durante anos e anos. Quem vive suficientemente perto desses caixotes de barracas em altura sabe que, pelos últimos dias do mês, quando “cai” o taco do rendimento, as cervejarias ficam cheias de “franceses”, um dos nomes que lhes é eufemisticamente atribuído pelos empregados de mesa, e o consumo de mariscos aumenta exponencialmente.
Como a noite já vai adiantada e o que vale mesmo a pena é apresentar soluções, uma vez que especialistas em detectar problemas, há por ai aos pontapés, proponho o seguinte:
1- Fazer o favor de implodir todos esses prédios e blocos que se espalham um pouco pela cidade.
2- Dar aos ciganos terrenos, de preferência na periferia de Lisboa, providos de saneameto básico, água potável e muito espaço onde estes possam construir, destruir, geminar, aglutinar, separar as suas construções movíveis.
3- Através das associações sociais, como, por exemplo, a Igreja Católica, promover pacientemente alguma educação e integração dos que progressivamente queiram afastar-se do modelo dos seus antepassados.
4- Não chatear muito, mantendo no entanto apertada vigilância, mesmo que para isso tenhamos de contratar bufos dentro das próprias comunidades.
5- Deixá-los trabalhar nas feiras e mercados porque, ao fim e ao cabo, é preferível assim, não cobrando impostos mas também não dando rendimentos mínimos que só fomentam a “calanzisse”.
6- Para os mais sensíveis podemos pensar em chamar os chamados bons exemplos, o Quaresma, o Quique Flores, o comandante da Polícia de Torres, os chamados bons ciganos que souberam pela sua obra e engenho mudar de vida.
Tenham uma certeza: Todos ganhamos (até eles).
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
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1 comentário:
Visitei hoje o seu blog. Gostei. Todavia, fico à espero do Luís Pinheiro que conheço e que tanto me agrada.
Força
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