TUDO ACEITA E NADA MERECE

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ANOS 70 ( II )


Local, ano e acontecimento: Lisboa, Liceu de Gil Vicente, 1972, exame oral de Geometria Descritiva do 7º ano (agora 11º).

Depois de um dèzito na escrita apresentei-me à oral. Tinha uma certa mania em matéria de desenho e, como tal, dedicado pouco tempo à disciplina em questão. Como não tinha ainda idade para me propor a exame, tinha-o sido pela saudosa Escola Luís de Camões, ao Intendente. Como Presidente do júri tocou-me o Roxo, arquitecto, mas que, por motivos nunca percebidos, se arrastava como professor de Trabalhos Manuais. Já o tinha apanhado no Camões entre 65 e 66 e agora lá estava ele, no Gil, com a tarefa de me examinar. Pela ordem alfabética tinha-me calhado ser o primeiro desse dia.

Após aquelas tretas iniciais lá me mandou desenhar uma linha de terra, o que fiz com algum sucesso, visto conseguir traçar rectas e curvas sem tremeliques o que me proporcionou o primeiro elogio dessa manhã soalheira.

Só que acabou por ser o primeiro e o último visto o resto do exame ter sido um desastre completo, em parte por azar, dado ter incidido sobre aquela parte (imensa, por acaso) da matéria que eu nem sequer tinha folheado.

As coisas iam de mal a pior quando o Roxo me perguntou “o que é que eu pretendia seguir”; a minha resposta, ainda por cima com um ar sério: Arquitecto, senhor arquitecto, logrou lançar uma excelente disposição sobre a sala, uma vez que, à gargalhada geral, se sucedeu o assassino dichote que o Roxo atirou aos outros elementos do júri: “Mais um que nunca lá vai chegar”. E não há dúvida que teve razão.

Ao terminar o exame fui contemplado com a ordem “de me manter na sala, tentando aprender alguma coisa com os restantes alunos que se seguiriam, com vista a uma melhor prestação na segunda época”:

Conformado com a sentença lá me vim sentar junto ao nosso Teodorias que tinha feito o favor de me acompanhar, trocando uma manhã de praia por este gesto solidário.

O aluno seguinte tinha dois apelidos, daqueles sonantes, ligados por uma partícula “e” e apresentava-se pujante ao exame, vestido com blazer azul, de botões dourados e calça cinzenta, não faltando a gravata de risca em diagonal. Ainda por cima os apelidos eram um único composto e não concatenados, género Apelido 1 da mãe e Apelido 2 do pai. Não me lembro da nota com que ía à oral, nem isso interessa para o caso. O Roxo quase fez uma vénia quando lhe perguntou “se Apelido 1 e Apelido 2 tinham algo a ver com o insigne Arquitecto Apelido 1 e Apelido 2”. Quando o moço respondeu “é meu pai” o Roxo, como não podia deixar de ser, sorrindo, retorquiu: “Como é evidente vai seguir a mesma carreira e tornar-se continuador da obra magnífica empreendida pelo seu pai?”.
Tendo obtido uma tímida resposta afirmativa lá recomeçou tudo com o desenho da linha de terra. Só que – Deus é Grande e nessa manhã de Junho de 1972 estava de olhos bem abertos – o menino Apelido1 e Apelido 2 ainda sabia menos que eu, com a agravante de nem conseguir desenhar linhas direitas.

À medida que o exame decorria eu era presenteado pelo Roxo com olhares assassinos. Notava-se o arrependimento de me ter mandado ficar, associado ao crescente murmúrio da sala, cada vez que o futuro Arquitecto se espalhava sem apelo nem agravo.

Para abreviar apenas posso dizer que, tanto ele como eu, passámos com 10 (naqueles tempos ainda havia um bocadinho de vergonha) e, ao contrário deste escriba, o Apelido 1 e Apelido 2 tornou-se mesmo Arquitecto, digno sucessor do Atelier do paizinho.

Quanto a mim não há dúvida que, nesse dia, estava mesmo com o cuzinho virado para a Lua.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Estes dois queriam ir-me ao c.


Não duvido que até sejam boas pessoas. Agora há coisas...
A primeira é a ideia peregrina de tirar os carros do Terreiro do Paço ao domingo. Um cidadão habitante de Lisboa - daqueles normais que não têm garagem no condomínio - passa a semana refém dos que, vindos da periferia, montados nos seus carrinhos, ocupam todos os lugares disponíveis. Basta necessitar de tirar o carro um bocado para perceber que já não o pode voltar a estacionar perto de casa. Tudo bem, usem-se os transportes públicos; é o que eu faço. Logo, ao fim-de-semana, quando essa malta está pacatamente nas "linhas" (Loures, Vila Franca, Cascais, Sintra e Margem Sul), os transportes públicos são mais raros ou inexistentes em certas linhas, o trânsito é mais fluido e não se polui tanto em engarrafamentos, é que nos impedem de circular de carro na totalidade da cidade. Somos duplamente reféns.
A segunda medida prende-se com o IMI.
Viver em Lisboa, capital do país, é um acto de coragem. A capitalidade só aporta desvantagens. São as manifs, as delegações, as embaixadas, os serviços públicos, as cimeiras, as tomadas de posse, as paradas gay, tudo a chatear o municipe. Se os tipos de trás-do-sol-posto querem ascender a vila ou cidade para onde é que vêm bloquear as ruas com as excursões almoçaristas? Para S.Bento, o que lixa logo a circulação no centro da cidade. A CGTP e a UGT manifestam-se onde? Em Lisboa. Etc...etc...etc...
Conclusão: o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) deveria ser tendencialmente zero, desde a segunda circular até ao rio, para compensar os que cá moram e atrair outros para a cidade. Ora estes dois queriam aumentá-lo para o máximo possível. Em vez de compensar, castigar.
O Costa porque a CML está tesa e a solução é aumentar impostos e criar taxas (sobre os mesmos) e o Zé (agora convenientemente calado (tacho, olha o penacho, tacho ó zé d'arriba; tacho, ai rapó tacho, de cima pra baixo de baixo pra riba)) porque provavelmente acha que qualquer modesto proprietário de um andar é um perigoso fascista.
Sai mangito! Por agora para estes (que são os que lá estão).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Pedir Factura?

Não percebo nada de economia; nem de macro, nem de micro. A única relação com esta matéria vem da cadeira de História Económica; aqui vale o senso comum.

Com a campanha "peça factura" pretende o Estado arrecadar mais impostos.
Pergunto: a quem?
Se chamo um canalizador ou mando arranjar o carro numa oficinazeca e peço factura o que é que acontece?
Os tipos levam-me logo mais 21% do IVA.
Como vão ser obrigados a pagar IRS ou IRC acrescentam um xis devido a esse facto.
O estado obtém mais receita, mas à minha custa, porque os outros intervenientes têm a possibilidade de fazer reflectir esses custos no preço final.
O mesmo se passa nos restaurantes: mais pedidos de factura, mais cara a refeição. Se não imediatamente assim será num futuro próximo.
Isto porque qualquer empresário compõe os preços de venda em função dos custos onde os impostos estão incluídos.

Por isso eu - legítimo membro dos otários que pagam tudo - proclamo:
FACTURA? Não obrigado.

ODRINHAS


Lembram-se? Mil novecentos e quê? Falta a crónica.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

TAGUS


Já era consumidor da TAGUS, não sei bem porquê, talvez por ter apanhado uma daquelas promoções em que dão um copo. Acontece que fiquei a gostar. Ainda por cima, com o nome do rio da minha cidade. Com esta campanha www.orgulhohetero.com que deixou a bichanada em transe só a posso apreciar cada vez mais.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cara escória Joana:

Antes de mais, duas achegas: senti-me lisonjeado pelas palavras que me dirigiu e pela importância que deu ao meu comentário; deixe-me esclarecer também que nada tenho contra a Mulher, latu sensu, muito menos contra a ala feminina da Escória, strictu sensu, até porque "filho de escória, escória o é", seja homem ou mulher (atente-se, "filho" e não cônjuge).

Dito isto, vou tentar (a mais não me sinto obrigado) explicar-lhe como isto funciona.

O MAE reúne-se em sessões ordinárias, extraordinárias e "conárias", segundo os seus estatutos.

As primeiras ocorrem mensalmente, as famosas "últimas sextas-feiras do mês", as quais, segundo consta, lhe causam alguma comichão. Nestas, a presença feminina está estrictamente (entenda-se estatutariamente) proibida.

As chamadas sessões extraordinárias, como o nome indica, surgem aquando de alguma efeméride ou de alguma ocasião excepcional que obrigue à reunião dos seus membros e, nas quais, a presença feminina está obviamente dependente de deliberação, havendo quórum para tal. Permita-me dizer que o MAE tem sido até bastante condescendente neste ponto, raramente deliberando em sentido negativo, caíndo, por conseguinte, em saco roto qualquer acusação de conservadorismo - pelo menos de conservadorismo naturalista, de índole metafísico-dogmática.
Isto para lhe mostrar que podemos dizer "não", mas explicamos o "porquê", apesar de nada nos obrigar a tal.

Last but not least, as sessões "conárias" (que inspiraram o "Kunami fresquinho" de uns felinos que por aí andam). Nestas sim, a presença feminina é pressuposto, caso o dia do Doutoramento de filha ou esposa coincida com uma sexta, a última do mês.
Como vê, somos uns mãos-largas e, se bem me lembro, a senhora sua mãe já teve o prazer de intervir numa destas sessões, preenchendo para tal os requisitos. Aliás, parece-me bastante elogioso para a Mulher a existência de tão exigentes condições.

Resta-me dar-lhe os melhores cumprimentos e um conselho de escória para escória: não deixe de estudar, já faltou mais!

Atentamente,

Chico

P.s: peço desculpa pela estemporâneadade do esclarecimento, mas só agora me foi possível dar a cuidada atenção que exigente tarefa merece.