TUDO ACEITA E NADA MERECE

domingo, 3 de junho de 2007

O SARILHO

Pedro Santana Lopes foi eleito pelos lisboetas. Por poucos votos, segundo a “máquina” socialista: cerca de 800. No entanto - é indesmentível – foi-o (sozinho) contra uma coligação entre dois fortes partidos da esquerda – PS e PCP – e, ainda por cima, contra o candidato que já estava no poder, João Soares, o que em matéria autárquica (Portuguesa) é pouco normal. Com efeito os Presidentes de Câmara só costumam cair, ou quando desistem de se candidatar, o que não foi o caso, ou quando a população quer mesmo correr com eles. Daí a vitória do Santana Lopes contra o João Soares representar (quanto a mim) muito mais do que uns simples 800 votos. Poderemos sempre dizer que veio na sequência da “desistência” do Guterres. Então e o Joaquim Raposo na Amadora, o Mesquita Machado em Braga, entre outros que, pertencendo ao PS não perderam os seus lugares de Presidente? Talvez possamos ir buscar algumas das causas à campanha desastrosa onde, por exemplo, o seu director, Vasco Lourenço, veio “atemorizar” os eleitores com a ameaça do retorno do fascismo caso Santana Lopes fosse eleito, isto perante muitos eleitores que por terem menos de 35 anos idade nunca viveram nessa época. Aquilo que resultava nos anos 70 e 80 já não poderia funcionar em 2001.

Uma vez eleito (mais uma vez quanto a mim) PSL, nos dois anos e meio em que exerceu o seu mandato, foi um dos melhores presidentes de Câmara que Lisboa conheceu.

Não considerando (porque, ao fim e ao cabo, todos procuram denegrir o seu antecessor) as denúncias em termos de urbanismo como, por exemplo, o escândalo do prédio do Largo de Camões, recuperado pela Câmara (do João Soares) para ser entregue a “jovens” de Lisboa, que, por um mero acaso, eram todos filhos ou sobrinhos dos autarcas das freguesias de Lisboa afectas à coligação PS/PCP, podemos encontrar diversas iniciativas em prol da cidade patrocinadas por PSL:

- A recuperação da zona do parque florestal de Monsanto, com diversos parques infantis, a criação do auditório Keil do Amaral, pistas para ciclistas, locais interditos à circulação automóvel e um reforço do policiamento da área. Diz-se que isso se deveu à utilização (pela primeira vez) da casa situada nessa zona, mandada recuperar por Kruz Abecassis para moradia dos Presidentes da Câmara. Qual o mal disso? Será de mais que o Presidente da Câmara de uma cidade tenha uma casa proporcionada pelo município, enquanto durar o seu mandato?

- Foi o primeiro presidente que teve coragem de regular o trânsito automóvel nos bairros históricos: No Bairro Alto, Alfama, Castelo, Mouraria, etc… deixou de ser possível o escândalo que se vivia anteriormente: “bichas” de carros para entrar ou sair, estacionamento selvagem impeditivo do acesso de uma ambulância ou de um carro de bombeiros, impossibilidade de os carros do lixo poderem exercer a sua actividade. Lembramo-nos da polémica. Contrariamente ao João Soares, que desistia ao mínimo contratempo, PSL manteve as suas medidas que hoje são apoiadas por todos.

- Sobre o túnel do Marquês, lançado por ele, não vale a pena tecer considerações, uma vez que parece consensual a utilidade dessa obra. Aliás José Sá Fernandes está a pagar, correndo até o risco de não ser eleito vereador, todos os atrasos que provocou à obra.

- Para não me alongar vou só referir uma obra que não chegou a ver a luz do dia: O Casino no Parque Mayer. A oposição, PS / PCP / BE (mais uma vez o Sá Fernandes em acção) tudo fizeram para que o projecto fosse abortado.

Independentemente de quem tenha ou não razão sobre as questões técnicas subjacentes ao caso ou de ser muito caro o projecto do Frank Gery, parece-me evidente que quem ama aquela zona da cidade sofre com o abandono nocturno a que está sujeita. Toda a gente proclama que a Avenida da Liberdade deve ser reabilitada, são choradas lágrimas de crocodilo quando a comparam com os Campos Elísios ou a Rambla de Barcelona. Mas onde estão as iniciativas concretas? Certamente que um Casino instalado no Parque seria uma âncora poderosa para a reformulação nocturna do espaço. Veja-se o que de positivo acontece no Parque das Nações onde finalmente acabou por ser instalado.

O que é que então tramou PSL? Segundo o nosso Teodorias foi a tentação de dar o passo mais longo que o pé. E como é que isso foi possível? Pura e simplesmente porque o Durão Barroso resolveu criar um grande sarilho ao pirar-se do país para um cargo europeu (daí o título desta “bosta”). Aí o PSL não resistiu; ele que estava a preparar-se para fazer um ou dois mandatos de qualidade (vide Figueira da Foz) e, seguindo o exemplo do Jorge Sampaio, tentar a Presidência da República foi, de repente, alcandroado a um lugar para que não estava, nem preparado, nem vocacionado. Além disso sabia-se que o então Presidente estava à espera da mínima oportunidade para, uma vez resolvida a liderança do PS, provocar eleições antecipadas.

É pena que este “sarilho” tenha retirado PSL da Câmara. Lisboa (acho eu) estaria diferente para melhor.

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